terça-feira, 15 de abril de 2014

ABCZ Inova com Campeonato Persistência para premiar fêmeas mais funcionais



Por uma iniciativa proposta pelo diretor Adaldio Castilho, a ABCZ aceitou incluir no concurso o Campeonato Persistência. Mas não pensando em vacas longevas, antigas. É uma forma de premiar uma fêmea, independente da categoria, vaca ou novilha, que consiga manter boa produção de leite depois de seis meses de parida e já carregando outro produto no ventre. Adaldio é renomado criador de Sindi, mas a proposta foi aceita para ser medida em todas as raças que inscrevam fêmeas nos torneios leiteiros. Só precisa estar prenha e com mais de seis meses em lactação.

Segundo a ABCZ, este campeonato será medido dentro do tradicional torneio, porque não houve tempo de homologar um regulamento próprio para essa disputa - o que deverá ocorrer já para a Megaleite, por exemplo. Então, fêmeas que tenham crias com meio ano de vida já poderão concorrer ao prêmio na Expozebu 2014, marcada para entre 3 e 10 de maio próximos, em Uberaba. Vai haver uma campeã Persistência entre as categorias Fêmea Jovem (até 3 anos), Vaca Jovem (3 a 4 anos) e Vaca Adulta (acima de 4 anos). Esse continuam os mesmos, com custos para efeito de resultados imediatos, em torneios, que jamais serão aplicados no dia-a-dia de uma propriedade. Nem que o leite pago ao produtor vá a R$ 20,00 o litro.

Pelo histórico, uma campeã persistência deste ano dificilmente terá chance de vencer o concurso principal, exatamente porque foge do pico de lactação para apresentação em um evento como esse. Os técnicos definem aquele período de 40 a 90 dias como o de maior pico de lactação e seis meses podem fazer muita diferença no número final, mesmo com manejo específico para leite e uso regulamentado da ocitocina permitido - e até fornecido - pela ABCZ.

Passei um dia todo aprendendo um pouco mais sobre o assunto com Adaldio, que vive de fazenda e é um técnico admirado pela sua paixão pelo Sindi. Como a fazenda não fornece leite para laticínio e o Sindi voltou ao cenário nacional em 2005 pelas suas mãos, exatamente numa Expozebu, mas focado na produção de carne, o leite ficou um pouco esquecido. Restrito ao que o Nordeste manteve com o Sindi nas últimas décadas e alguns selecionadores que usaram linhagens mais leiteiras para dar opção de seleção ao gado paquistanês de dupla aptidãonatural. Lembro de ouvir em visitas anteriores, inclusive com técnicos importantes e dirigentes da ABCZ na fazenda, que o leite do Sindi ia de brinde. Pois de pouco mais de um ano pra cá, a fazenda começou a fazer o controle leiteiro do PMGZ-Leite de suas fêmeas, que já eram avaliadas no PMGZ-Corte. Ou seja, os animais ali entram nos dois programas. Isso explica o desenvolvimento de bezerros que vi esses dias na fazenda e você tem noção na foto de um lote de campo.

Graças à estratégia de deixar o leite das mães para o bezerro até perto de um ano, eles desmamam com quase 70% do peso da mãe. Se lembrarmos que o objetivo de uma boa recria é colocar o bezerro pro pasto com pelo menos metade do peso das mães, então esses índices do Sindi de Adaldio já conseguem praticamente eliminar uma fase do ciclo pecuário. Diminui o custo e aumenta rentabilidade, inclusive porque pode-se abater animais prontos mais jovens.

Ouvi, também, que o escore dos bezerros na desmama não era difícil de atingir por causa do tamanho das mães, de frame menor. Só que aí está a habilidade materna. Também porque os abates técnicos mostram números bastante convincentes. O último foi em 2013 no frigorífico Minerva, com animais meio-sangue Sindi x Nelore, e revelou garrotes entre dois e quatro dentes com peso próximo a 25@ (entraram com 15@ e ficaram 92 dias em confinamento),rendimento médio de carcaça superior a 59%, com pico de 62,82%. Isso é o que tem explicado o interesse cada vez maior por essa raça que alguns selecionadores mais tradicionais de Nelore, por exemplo, têm adotado como uma grande opção - Beabisa, Nelore CEN, Camparino, Adir do Carmo Leonel, OT, entre outros.

Quando eu pergunto o que os levou ao Sindi, a resposta são as contas feitas e fechadas com essa pecuária que agora gera mais um dado importante para seleção, que é a funcionalidade para leite medido no Campeonato Persistência que está para estrear na Expozebu. Vai ser legal ver algumas vovós competindo com netinhas que estão em primeira ou segunda cria e amamentando igualmente bem para provar a capacidade produtiva e virar referência para produção no campo. É mais uma atitude louvável da ABCZ que direciona o agronegócio do Brasil para o topo do mundo.

Em Foco

* Já que o aprendizado foi muito e o assunto rende sempre, tem uns números que o amigo Armando Senis Júnior, técnico da ABCZ que faz o controle leiteiro oficial do Sindi Castilho me passou depois da esgota das vacas e das três ordenhas regulamentares para informação da fazenda. A recordista PAz da Estiva fechou na fazenda com 29kg. Aroeira, 33 kg. Bicetriz, que foi a primeira a bater recorde no ano passado, com 17 quilos, registrou agora 25 em sua segunda cria. Foi só mudar um pouco o manejo leiteiro que os números vão aumentando. Todas entrarão prenhes nos torneios deste ano. Esse aumento, segundo Adaldio, é decorrente de um melhor estímulo, sem hormônios condenáveis. "É igual academia: quanto mais você corre, mais quer correr, quando mais puxa peso, mais quer levantar", compara.

* Uma continha simples que revela o interesse comercial que o Sindi tem atraído: Jangada da Estiva, essa fêmea aí da foto abaixo, é uma das principais mães da raça no Brasil. Um casal de bezerros dela custa R$ 25 mil. Uma aspiração da Jangada foi comprada por R$ 32 mil e o investidor obteve 12 prenhezes, sendo dez fêmeas! Se pegarmos só os três casais que se formam, já deu R$ 75 mil. Outro seleiconador importante adquiriu outra aspiração da Jangada por R$ 36 mil. A coleta originou 16 prenhezes. Se forem oito casais, já rendeu R$ 200 mil. E estamos falando só de uma fêmea! Rende ou não?


Daniel De Paula
é publicitário e jornalista desde 1989. Trabalhou em impressos, rádios e televisão a partir de São Paulo, onde foi criado e onde se formou, com destaque para oito anos como comentarista dos canais Sportv/TV Globo até 2004. Hoje é repórter do Canal do Boi, canal integrante do SBA (Sistema Brasileiro do Agronegócio).

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