quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Embrapa estuda o Matrinxã para substituir a sardinha enlatada


Rainha absoluta das latas, a sardinha (Sardinella brasiliensis) responde por dois terços do mercado nacional de peixes em conserva, o qual faturou R$2,27 bilhões em 2009, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentação. No entanto, ao longo dos anos, tem-se registrado um declínio dos estoques naturais de sardinha. Em 1970, o Brasil pescou 135 mil toneladas da espécie. Já no ano passado, a captura somou pouco mais de 90 mil toneladas. Para assegurar a proteção da sua reprodução, foi instituído o período de defeso, cinco meses anuais em que a pesca é proibida.

Com o objetivo de responder a esse gargalo da indústria conserveira e ampliar o mercado consumidor de pescados em conserva, alcançando novos nichos, especialistas da Embrapa iniciaram o projeto “A matrinxã (Brycon cephalus) como alternativa à sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis) para enlatamento pela indústria de pescados”, e assim começar a testar essa e outras espécies de peixes propícias para a comercialização em lata.

“É um projeto abrangente que analisará a viabilidade econômica da produção, a aceitação do mercado consumidor, os processos tecnológicos de processamento da matrinxã e a transferência de boas práticas aos aquicultores interessados em produzir a espécie”, apresentou o analista Diego Neves, que coordena o projeto ao lado da pesquisadora Patrícia Mochiaro, ambos da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO). Também participam do projeto profissionais da Embrapa Produtos e Mercado (Brasília-DF), Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro-RJ) e Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat). Os trabalhos são financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt) e foram incorporados pela carteira Macroprograma 4 da Embrapa.

“Caso a matrinxã se mostre mais onerosa que a sardinha, podemos inseri-la em outro nicho de mercado e testar outras espécies para substituir a sardinha-verdadeira”, informou Neves, apontando espécies conhecidas, como a sardinha-de-água-doce (Triportheus ssp., Hemiodus ssp., entre outras), como possíveis candidatas para a produção em conservas em substituição à espécie marinha.

Estudos indicam que a matrinxã apresenta crescimento precoce e boa conversão alimentar, chegando a atingir entre 800 gramas a 1,2 quilo em um ano e possui características que a tornam indicada para agricultores familiares. “De acordo com a literatura, a matrinxã pode se tornar importante tanto para a indústria conserveira de pescado como para pequenos produtores, que podem fazer o processamento por meio de cooperativas”, colocou o analista da Embrapa.

Em julho, participantes do projeto visitaram a indústria Nova Piracema de conservas, na capital fluminense, levando amostras de matrinxã e sardinhas de água doce para testes de produção. Esses primeiros ensaios indicaram viabilidade técnica do processo de enlatamento das duas espécies já evisceradas e descabeçadas.

Entre os resultados esperados do projeto estão a integração dos piscicultores da região Norte com a indústria conserveira, o desenvolvimento dos pequenos produtores e a oferta de proteína animal de boa qualidade a preços acessíveis à população. “O projeto também colocará a indústria de processamento de pescado em contato com produtos oriundos da aquicultura em substituição ou complementação à produção pesqueira”, apontou Viviane Verdolin, pesquisadora da Embrapa que atua no projeto.

Fábio Reynol – Jornalista (MTb/SP 30.269)
Embrapa Pesca e Aquicultura
Fabio.reynol@embrapa.br

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