quarta-feira, 24 de julho de 2013

Boi inteiro ou boi castrado?


Considerando animais de mesmo grau de sangue e com mesmo peso e idade, podemos citar algumas explicações para essa diferença. A primeira está diretamente ligada à relação entre gordura e proteína no ganho de peso. Para cada quilo de peso que o animal ganhar, no castrado haverá mais tecido adiposo(gordura) do que musculatura. E a gordura possui mais que o dobro de energia que a musculatura. Com isso, o animal castrado, para ganhar peso, tem que ingerir uma dieta com muito mais energia, ou então terá que ingerir uma maior quantidade de alimento. Isso considerando que inteiro e castrado estão ganhando o mesmo peso. Assim, se ambos ingerirem a mesma dieta, o inteiro ganhará mais peso. Essa diferença varia de 15 a 20%, ou seja, o animal castrado precisa ingerir 15 a 20% a mais de energia que o inteiro para ganhar um quilo de peso.

A segunda explicação para essa maior eficiência do inteiro em relação ao castrado também está ligada à relação gordura e proteína no ganho de peso. Só que, dessa vez, isso não ocorre em relação ao teor energético dos tecidos adiposo e muscular, mas sim devido à proporção de água nestes tecidos. O tecido adiposo possui muito menos água que o tecido muscular, ou seja, na realidade, o boi inteiro tem muito mais água no ganho de peso. Essa diferença é muito grande. É claro que há variação entre animais, mas, em média, o tecido adiposo contém 80% de matéria seca e 20% de água; já o tecido muscular contém 30% de matéria seca e 70% de água. Isso quer dizer que para cada quilo de tecido adiposo que o animal ganhar, na verdade serão 200g de água. Já no caso do animal inteiro, para cada quilo de musculatura que o animal ganhar, serão 700g de água.

Compare, por exemplo, a necessidade nutricional de um animal que entra no confinamento com 14 arrobas e sai com 18 arrobas, com ganho médio diário de 1.500 gramas/dia. Para alcançar este ganho, um animal inteiro deverá ingerir 6,89 Mcal/dia de energia líquida para ganho. Já no caso de um boi castrado, para ter este mesmo ganho de peso, seriam necessárias 7,92 Mcal/dia, ou seja, 15% a mais de energia (base de dados BR Corte, 2011, para zebuínos). Com isso, para obter um mesmo ganho de peso, o animal castrado precisa ingerir mais energia, que é um item de custo alto na alimentação.

No caso do animal a pasto, com ganho médio diário de 750g, a necessidade nutricional do boi inteiro seria de 3,21 Mcal de energia líquida para ganho, contra 3,69 Mcal/dia para o castrado. A diferença também seria de cerca de 15% a favor do animal inteiro.

Neste último caso, da terminação a pasto, o raciocínio é parecido, mas devem ser feitas algumas considerações. Deve-se ter em mente que ao final do período de engorda, no acabamento da carcaça, há mais dificuldade em se ter acúmulo de gordura no boi inteiro. Isso porque, para que este animal deposite um bom teor de gordura na carcaça, ele teria que ingerir uma quantidade grande de energia, superior à sua capacidade de depositar musculatura. Isso muitas vezes leva à necessidade de uma suplementação em maior qualidade ou quantidade, ou aumento na oferta de forragem para este animal. Entretanto, neste último caso, como o teor energético do capim, mesmo que bem manejado, não é alto, é comum o animal inteiro levar mais tempo para chegar ao ponto de abate.

E é aí a grande dúvida do produtor: uma vez que este boi inteiro normalmente atinge acabamento numa idade mais avançada, isso acarreta dificuldade de manejo e diminuição da taxa de desfrute. Considerando, então, que o animal inteiro é mais eficiente para ganhar peso, a decisão de castrar ou não passa por fatores indiretos como: a dificuldade de manejo pela presença de fêmeas, maior dificuldade de terminação na entressafra (período seco), aumento do custo com manutenção de benfeitorias (brigas), menor desfrute, etc. Entretanto, não se deve esquecer que os animais inteiros dão acabamento numa idade mais avançada, ou seja, com peso maior que os castrados, acarretando maior rendimento de carcaça.

Na realidade, existem vários fatores diretos e indiretos que influenciam na tomada de decisão entre castrar ou não os bois para a engorda, principalmente a pasto. O prêmio pago pelo frigorífico aos animais castrados será determinante. Cabe ao produtor analisar todos esses fatores para fazer a escolha certa. E se a decisão for pela castração bovina (a pasto), que ela seja o mais tardia possível.

(*) Paulo César Vieira Costa é médico veterinário da Rehagro

Fonte: Rural Centro

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