terça-feira, 21 de maio de 2013

Esclarecimentos sobre infestações de pragas no Brasil


O ataque de insetos, desde o plantio até próximo à colheita, é um fator limitante à produtividade dos cultivos, independentemente do sistema de produção utilizado. Sob condições ambientais favoráveis e/ou na ausência do uso de práticas adequadas de manejo, a proliferação de insetos pode atingir níveis de danos econômicos e acarretar prejuízos.

Na safra de 2012/2013 foi relatada a ocorrência de infestações de lagartas no Brasil, cujos danos mais acentuados foram observados em lavouras de algodão e soja no oeste da Bahia,sul do Maranhão e do Piauí. Na região do Cerrado, também há relatos de ataques às culturas de milho, algodão, feijão, milheto, sorgo e soja. As lagartas mencionadas são pertencentes às espécies Helicoverpa spp.,Heliothis virescens e Spodoptera spp..

Os agricultores brasileiros têm optado pelo uso de sementes geneticamente modificadas(GM) 
que contém a tecnologia Bt como uma alternativa para controlar pragas. Esta tecnologia é amplamente empregada no País em virtude de sua eficiência. Além disso, apresenta outras vantagens como: ausência de efeitos adversos a organismos não‐alvo, manutenção dos agentes de controle biológico na natureza, bem como a racionalização no uso de inseticidas, que resulta em benefício ambiental e social decorrentes da diminuição de risco de contaminação por exposição indevida.

Com o aumento da adoção desta tecnologia nas culturas de milho e algodão e face à ocorrência de ataques de insetos a plantas Bt, a eficácia das lavouras transgênicas tem sido
questionada.

Por essa razão, se fazem necessários alguns esclarecimentos que elucidam os
motivos da infestação, reiteram a eficácia da tecnologia e reforçam a recomendação de
medidas de controle.

Por que a pressão de pragas está mais intensa neste ano‐safra?


Três fatores contribuíram significativamente para a ocorrência da infestação.O primeiro está relacionado às condições climáticas que, nos anos‐safra de 2011/2012 e 2012/2013, foram atípicas.

A estiagem favoreceu a sobrevivência das lagartas da safra 2011/2012 que encontraram condições climáticas adequadas para completar seu ciclo de desenvolvimento e,desta forma, garantir a sobrevivência e aumento da população.

O segundo fator pode ser atribuído ao plantio sequencial e simultâneo de cultivos hospedeiros (como milho, soja e algodão).Assim, estas áreas oferecem alimento, abrigo e locais de reprodução abundantes às pragas.

O terceiro fator se refere à ausência de monitoramento adequado, o qual permite a identificação precoce da infestação da praga. A detecção da população no início da infestação é primordial para a efetividade do controle, visto que os inseticidas comerciais e as plantas Bt atuais são mais eficazes em lagartas em estágios iniciais de desenvolvimento.

Por que a tecnologia Bt não controlou os ataques de pragas?

Cada tecnologia é desenvolvida para uma ou um grupo de pragas específicas e cada evento Bt 
apresenta diferentes níveis de controle para as distintas espécies‐alvo.

É importante mencionar que pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) descobriram que entre as lagartas que estão atacando lavouras de algodão, milho e soja em diversas regiões está a Helicoverpa armigera, que ainda não havia sido encontrada no Brasil.

identificação da praga foi feita através de análise morfológica (realizada pelo pesquisador Alexandre Specht‐ Embrapa Cerrados) e análise molecular (Daniel R. Sosa‐Gomez -Embrapa Soja).

Helicoverpa armigera é enquadrada como uma praga quarentenária A1.Esta classificação é dada para as pragas exóticas, não presentes no País, que podem causar importantes danos econômicos.

A falta de identificação correta da praga agravou o surto populacional, visto que os inseticidas registrados e as plantas comerciais Bt disponíveis no País não consideravam esta espécie como praga‐alvo.

Coma identificação da praga quarentenária, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério 
da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) autorizou em caráter emergencial a importação e aplicação de produtos que tenham como ingrediente ativo único o benzoato de emamectina. Este composto tem uso autorizado em mais de 40 países, entre eles Portugal, Espanha, Itália, França,Holanda, Estados Unidos e Austrália.

Quais são as recomendações para o manejo de lavouras com tecnologia Bt?


Mesmo com o uso desta tecnologia é necessário constante monitoramento da lavoura para 
verificar se existe ou não necessidade de controle complementar. Sob condições de alta pressão de pragas, pode existir a necessidade de fazer aplicações de inseticidas inclusive em lavouras com tecnologia Bt. Essa ação faz parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP), umsistema que associa técnicas e métodos apropriados para manutenção da população de insetos emníveis abaixo dos capazes de provocar dano econômico.

No sistema de plantio atual, no qual a sucessão de culturas é uma prática comum, é extremamente importante a adoção, quando aplicável, da dessecação seguida da aplicação de inseticidas. Além disso, a rotação de princípios ativos com diferentes mecanismos de ação é recomendada. Esta prática reduz a população inicial de pragas e de lagartas em estágios mais avançados de desenvolvimento, as quais podem causar danos mesmo em culturas Bt.

Outra prática do MIP é a adoção do refúgio – área de plantas não GM em meio às transgênicas

–, indispensável para manter as pragas‐alvo suscetíveis à toxina Bt. As áreas de refúgio são 
fundamentais para a longevidade da tecnologia, já que representam uma fonte de indivíduos suscetíveis, os quais são úteis para prevenir o aparecimento de resistência.

Como prática complementar, o tratamento de sementes com inseticidas também é 
recomendado para proteção das plantas emsua fase inicial de desenvolvimento.

Portanto, o uso de plantas transgênicas para controle de insetos é uma prática eficaz e 
ambientalmente segura. Entretanto, em qualquersistema de produção, incluindo aqueles que utilizam plantas GM, as demais práticas de controle (químico, biológico e cultural) do MIP são primordiais para a manutenção da efetividade e longevidade da tecnologia. O manejo adequado na agricultura deve ser de responsabilidade de todas as partes envolvidas na cadeia produtiva.

Daniela Brioschi, doutora em Genética e Melhoramento de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luís de Queiróz (Esalq‐USP)

ii Dirceu Gassen,mestre em Agronomia na área de Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande 
do Sul (UFRGS)

iii Marcelo Gravina, doutor em Fitopatologia e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul(UFRGS) 

iv Odair Fernandes, doutor em entomologia pela Universidade de Nebraska Lincoln (EUA)

Fonte: CIB

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