Manhosa, dócil e perfeitamente saudável. É assim que a Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) descreve a bezerra “Brasília da Cerrados”, animal clonado pela técnica de transferência nuclear – não um clone convencional, a partir de células embrionárias ou de pele. Trata-se da primeira experiência bem-sucedida de clonagem de bovino a partir de células de tecido adiposo (gorduras) de um animal nascido.
Batizada com o nome da capital federal por ter nascido no dia 23 de abril, nas dependências do Centro de Transferência de Tecnologias de Raças Zebuínas com Aptidão Leiteira (CTZL), na semana do aniversário de 53 anos da cidade, a bezerra é fruto de um estudo iniciado há quatro anos pelo pesquisador Carlos Frederico Martins, com participação da professora Sônia Nair Báo, professora de Biologia Animal da Universidade de Brasília (UnB), de Ivo Pivato, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da UnB, das bolsistas Carolina Gonzales da Silva e Elisa Ribeiro da Cunha, alunas respectivamente de doutorado e mestrado da UnB, e da equipe do CTZL. Atualmente, os professores Fábio Ximenes e José Renato Borges, do Hospital Veterinário da Unb, também estão participando do trabalho, realizando o acompanhamento neonatal da bezerra Brasília.
“Há relatos na literatura de tentativas de clonagem a partir de células-tronco induzidas de células adiposas, mas o animal nasceu morto. No nosso caso, é a primeira vez que nasce um animal saudável utilizando-se esse tipo celular como fonte de células-tronco”, explica o pesquisador Carlos Frederico Martins. E Brasília é tão saudável – nasceu de parto natural com 35 quilos, e já pesava 42 quilos aos 10 dias de vida – que mama, caminha e brinca sem qualquer dificuldade ou ajuda dos técnicos.
O nascimento sem complicações chamou a atenção da equipe do Centro. “Nascer de parto natural é raro para animais clonados. Normalmente, o parto é induzido porque o clone não sinaliza para a mãe de aluguel quando vai nascer”, diz Martins, acrescentando que o peso de Brasília ao nascer foi satisfatório. “Um dos clones produzidos pelo uso de outro tipo celular (células amnióticas) morreu logo após o nascimento por complicações respiratórias. Era muito grande, pesava 58 quilos”, compara.
O pesquisador da Embrapa Cerrados e os colegas chegaram a desconfiar que a gestação tranquila resultaria em um animal não clonado. Mas quando Marina, a vaca receptora do embrião, deu à luz, o sucesso ficou evidente. “Ela é idêntica à vaca doadora quando bezerra, tem as mesmas manchas, os mesmos traços”, garante Martins. De fato, Brasília não guarda qualquer semelhança com Marina, uma vaca da raça Girolando. Por outro lado, é impossível distingui-la da imagem de Acácia, a mãe biológica, quando bezerra.
A comprovação definitiva de que se tratava mesmo de um clone veio uma semana depois, com o resultado do exame de DNA apontando rigorosamente o mesmo material genético de Acácia.
O nascimento da bezerra Brasília motiva o prosseguimento do estudo. “Vamos continuar pesquisando esses tipos de células. Queremos futuramente clonar animais transgênicos para a produção de proteínas de interesse humano, como a insulina ou fatores de coagulação humana, que possam ser liberadas a partir do leite bovino”, afirma Martins.
Experiência consagrada
A experiência da Embrapa com a clonagem de bovinos tem mais de uma década. A Empresa é responsável pelo primeiro bovino clonado na América Latina, representando um marco para a ciência. A bezerra “Vitória da Embrapa”, da raça Simental, nasceu em março de 2001. Ela foi clonada pela técnica de transferência nuclear a partir de células embrionárias e sempre mostrou bom desempenho em relação a crescimento e desenvolvimento de acordo com os padrões de sua raça. Em 2004, o nascimento do primeiro filhote comprovou que Vitória era um clone perfeito do ponto de vista científico e de produção, considerando o potencial reprodutivo e a habilidade materna. Em 2006, deu à luz mais uma cria. Faleceu em 2011, já em idade avançada. Além dos dois filhos, Vitória deixou dois netos, todos nascidos de forma natural.
O domínio da tecnologia alcançado com o nascimento de Vitória levou a outros clones bovinos bem sucedidos. Em 2003, nasceu “Lenda da Embrapa”, da raça holandesa. Em 2005, foi a vez de “Porã”, da raça Junqueira, em estado crítico de extinção no Brasil, com menos de 100 animais em todo o País. Assim como Vitória, esses clones deram crias, o que comprova bom potencial reprodutivo e habilidade materna.
Fonte: Embrapa e Globo Rural
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