quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Produtor de Leite e a Normativa 62


A substituição da Instrução Normativa 51 pela de número 62, que entrou em vigor em 1°de janeiro de 2012, veio com o objetivo de aumentar os prazos e limites de Contagem Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células Somáticas (CCS), para que os produtores de leite que não se encontravam nos padrões da normativa anterior tivessem mais tempo para se adequar.

Tabela 1. Prazos e limites para redução de CBT e CCS no leite de acordo com a IN 62 para as regiões Sul, Sudeste e Centro - oeste (para as regiões Norte e Nordeste acrescentar um ano ao prazo estabelecido)

Fonte: www.itambe.com.br/download/2209/cadernoAgropecuario.aspx

A grande polêmica envolvida nesse assunto é se realmente apenas prorrogando os prazos o problema será resolvido. De acordo com dados do laboratório de Qualidade do leite da Embrapa, que analisa mensalmente amostras de aproximadamente 20 mil rebanhos, no final de 2011, 95% das análises estavam com CBT acima de 100 mil/ml e 45% estavam acima de 400 mil/ml para CCS, indicando a distância da realidade exigida.

O Ministério da Agricultura criou, em 2002, a Instrução Normativa 51 para regulamentar a produção, identidade, qualidade e transporte do leite produzido no país, dando ao produto um padrão de qualidade internacional. Inúmeras medidas necessárias para alcançar estes objetivos foram propostas: facilidade de acesso ao crédito para financiamento da produção de leite; estabelecimento pelas indústrias lácteas de programas de pagamento baseado em indicadores de qualidade do leite; criação de programas de incentivo de consumo de produtos lácteos e sensibilização do consumidor quanto à sua importância na exigência por produtos com qualidade; proposição e realização programas de capacitação para os produtores e transportadores de leite, com foco em educação sanitária e qualidade do leite, dentre outras.

A capacitação era, e ainda é, considerada a alavanca deste processo. O que se observa é que, enquanto as outras medidas foram, em parte, colocadas em prática, ações concretas em relação à qualificação do produtor rural ainda são esperadas. Muitos produtores não apresentam resultados dentro dos padrões estabelecidos simplesmente por desconhecimento sobre o assunto, por não saberem como proceder para produzir leite com qualidade.

Os treinamentos para os produtores devem contemplar controle sanitário do rebanho; higiene de ordenha, além do controle de mastite, CCS e CBT. A nova legislação estabelece aprimoramentos no controle sanitário de brucelose e tuberculose e a obrigatoriedade da realização de análises para pesquisa de resíduos inibidores e antibióticos no leite.

Medidas práticas e eficazes devem ser repassadas aos produtores para que ocorra a redução da contagem bacteriana e de células somáticas. A higienização das mãos dos ordenhadores, dos utensílios e equipamentos utilizados na ordenha, um ambiente limpo e refrigeração do leite até 4°C em até 3 horas após a ordenha (devendo este ser processado em até 48 horas) são exemplos de medidas para baixar a CBT a valores aceitáveis. Para controle da CCS, pode ser considerado: realizar a manutenção preventiva de equipamentos; padronizar a rotina de ordenha; realizar o pré e pós dipping; ordenhar úberes limpos; usar protocolo predeterminado para tratamento de mastite clínica; fazer terapia apropriada para vacas secas e realizar a segregação e descarte de vacas portadoras de mastite crônica (considerando a baixa eficácia em alguns tratamentos com antibióticos).

Estas ações não são difíceis de serem executadas, entretanto é necessário treinamento, rotina e acompanhamento na aplicação dessas práticas. Alguns produtores já demonstraram esforço e apresentam resultados dentro dos padrões propostos pela Normativa. De acordo com dados do Laboratório de Análise da Qualidade do leite da Escola de Veterinária da UFMG, no ano de 2012, 35% de um total de 40 mil análises mensais apresentaram CBT abaixo de 100 mil/ml e CCS abaixo de 400 mil/ml, demonstrando que alguns produtores têm alcançado resultados excelentes.


Na opinião de muitos destes produtores, o trabalho foi muito árduo para os prazos simplesmente serem estendidos, sendo a Instrução Normativa 62 a representação do retrocesso e estagnação na busca pela qualidade. Esta idéia tem que ser mudada e deve ser outra vertente abordada nos processos de capacitação. O produtor deve querer buscar a qualidade e entender que ela é um passo sem volta e só traz benefícios para ele. A busca pela qualidade está relacionada com vacas sadias, sem mastite, com consequente aumento no volume do leite total produzido, redução de gastos com medicamentos e descarte com animais e, se o leite for comercializado para empresas que trabalham com bonificação, ainda há melhoria na rentabilidade.

Quem está dentro dos padrões estabelecidos na Instrução Normativa 62 já está ganhando. Em contrapartida, os produtores que não estão correndo atrás destas mudanças e ainda não atingiram bons resultados porque não têm interesse, não devem ser preocupação para o setor, a tendência é que estes diminuam sua expressividade no mercado.

Para aqueles que querem realmente produzir um leite de qualidade, não há motivos para receio, alcançar as metas propostas é só um detalhe em meio aos inúmeros benefícios gerados na fazenda. Mas as providências devem ser tomadas o mais rápido possível. A obtenção de um leite de qualidade é um trabalho árduo que requer monitoramento, qualificação, capacitação e tempo.

O que deve ser reforçado é que este não é um desafio para o produtor encarar sozinho, toda a cadeia é responsável por garantir que o leite chegue com qualidade à mesa do consumidor. É necessária reflexão e atitude de todos os envolvidos para garantir o desenvolvimento e sustentabilidade do ramo, já que produzir um alimento tão nobre e de alta demanda pelo mercado é um privilégio para poucos.
Vamos tomar uma atitude ou vamos deixar que em 2016 tenhamos que discutir o mesmo assunto novamente?



Fonte: Itambé

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