quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ferrugem Asiática na Soja


Nos últimos dez anos, a produção brasileira de soja superou a do milho, apresentando crescimento de 244%. Os preços recordes da soja devem estimular os produtores brasileiros a plantarem uma área sem precedentes na safra 2012/13, segundo analistas. No dia 16 de Julho de 2012, a soja bateu recorde e superou o patamar de 80 reais por saca pela primeira vez no porto de Paranaguá (PR), numa série de preços contabilizada desde 2006 e que serve de referência para o mercado. Especialistas projetam que a soja vai ocupar entre 27,5 milhões e 28 milhões de hectares na safra que começa a ser plantada nos próximos meses, um acréscimo de pelo menos 2,5 milhões de hectares ante os 25 milhões plantados em 2011/12.

A grande expansão da área cultivada no mundo proporcionou aumento do número e severidade das doenças que afetam a soja, sendo que mais de 100 espécies de patógenos já foram relatados, dos quais, cerca de 35 são de grande importância econômica. Várias doenças fúngicas são importantes para a cultura da soja, sendo que atualmente o maior destaque é para a ferrugem asiática, causada por Phakopsora pachyrhizi.

No ano 2000/01, a ferrugem asiática (P. pachyrhizi) foi constatada no Estado do Paraná e disseminou-se rapidamente para outros Estados do Brasil. Na safra 2002, a doença foi relatada nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, e na safra 2003/04 ocorreu de forma generalizada, em quase todo o País, causando prejuízos consideráveis em várias regiões produtoras. Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), com exceção de Roraima, todos os Estados que possuem cultivo de soja já foram atingidos pela doença (MT, PR, RS, MA, GO, MS, SP, SC, DF, TO, RO, PA e BA), envolvendo uma área de 22 milhões de hectares. Na safra 2006/2007, segundo dados da Embrapa, houve dano de 4,5% dos grãos em função da doença, cerca de 2,67 milhões de toneladas de soja, o que representa 615,7 milhões de dólares.

Somam-se a esse número, os custos das aplicações de fungicidas necessárias para controlar a doença. Na média nacional, safra 2006/07, foram 2,3 aplicações por hectare; o quê corresponde a 1,58 bilhões de dólares gastos. No total, o chamado custo-ferrugem chega a 2,19 bilhões de dólares nesta safra. A ferrugem asiática foi relatada pela primeira vez no Japão, em 1903. Posteriormente foi constatada em outros países da Ásia e na Austrália em 1934, na Índia em 1951 e no Havaí e nos Estados Unidos em 1994. No Continente Africano, foi detectada a partir de 1996, atingindo a Zâmbia e o Zimbábue em1998, aNigéria em 1999, Moçambique em 2000 e a África do Sul em 2001. No Paraguai, surgiu em 2000/01 e na Argentina em 2002. Essa doença tem sido estudada no continente Asiático há mais de trinta anos. Em Taiwan, onde já causou sérios problemas para a cultura da soja, verificou-se que a ferrugem asiática pode reduzir a produção em 18 % a 91 %.

A severidade da doença está em função das variações nas condições do ambiente, de ano para ano, estação para estação e de local para local. A concentração inicial de inoculo não reflete na severidade da doença; cultivares resistentes ou tolerantes sofrem quedas de produção bem menores do que os suscetíveis; a resistência genética das cultivares pode ser perdida com o tempo e as cultivares resistentes não são necessariamente as mais produtivas.

No Brasil, o patógeno P. pachyrhizi encontrou condições climáticas favoráveis, o que justifica a rápida disseminação às regiões produtoras de soja e a severidade com que a ferrugem ocorreu na última safra 2006/07 em todo o País. Os sintomas da ferrugem podem aparecer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, como em cotilédones, folhas e hastes, sendo mais característicos nas folhas. Os primeiros sintomas são caracterizados por minúsculos pontos mais escuros do que o tecido sadio da folha, de coloração esverdeada a cinza-esverdeada, com correspondente protuberância (urédia) na face inferior da folha. As Urédias aparecem predominantemente na superfície inferior, mas podem, desporadicamente, aparecer na superfície superior das folhas. 

Progressivamente, as urédias, adquirem cor castanho-clara a castanho-escura, abrem-se em minúsculo poro, por onde é liberado os uredósporos. Os uredósporos, inicialmente de coloração hialina (cristalina), tornam-se bege e acumulam-se ao redor dos poros ou são carregados pelo vento. O processo infeccioso se inicia quando os uredosporos germinam e produzem um tubo germinativo que cresce através da superfície da folha até que se formar um apressório. 

A penetração ocorre diretamente através da epiderme, ao contrário das outras ferrugens que penetram através dos estômatos. Urédias podem se desenvolver de5 a 10 dias após a infecção e os esporos do fungo podem ser produzidos por até 3 semanas. A temperatura para a germinação dos uredosporos pode variar entre8°C a30°C e a temperatura ótima é próxima de20°C, porém, sob alta umidade relativa do ar, a temperatura ideal para a infecção situa-se ao redor de18°C a21°C. Nesta faixa de temperatura, a infecção ocorre em 6:30 horas após a penetração, mas são necessárias 16 horas de umidade relativa elevada para que a infecção se realize plenamente. 

Por isso, temperaturas noturnas amenas e presença de água na superfície das folhas, tanto na forma de orvalho como precipitações bem distribuídas ao longo da safra favorecem o desenvolvimento da doença. O vento é a principal forma de disseminação desse patógeno, que só sobrevive e se multiplica em plantas vivas, para lavouras próximas ou a longas distâncias. Desta forma, outro fator que agrava ainda mais o seu estabelecimento no Brasil é a existência de outras plantas hospedeiras, constituídas por 95 espécies de 42 gêneros de Fabaceae.

Atualmente várias táticas de controle da ferrugem asiática da soja estão disponíveis. Entretanto, a maior parte das pesquisas envolve o uso de fungicidas e a resistência da planta hospedeira. Segundo Almeida et al. (2005), a existência de raças dificulta o controle através da resistência vertical. Os fungicidas dos grupos dos triazóis e estrobilurinas têm se mostrado mais eficientes para o controle da doença, com diferença na eficiência entre princípios ativos dentro de cada grupo. Além do controle químico, é importante considerar o manejo da cultura, devendo-se evitar a semeadura da soja na época mais favorável à doença, selecionar variedades mais precoces e, fundamentalmente, realizar o levantamento periódico da lavora para detectar a ocorrência da doença no seu início.

Dentre 452 cultivares testadas com isolados de P. pachyrhizi obtidos em 2002(raça do Centro-Sul e Sul), as seguintes mostram-se resistentes (R) a moderadamente resistentes (MR): BRS-134 (R), BRS MS – Bacuri (R), Campos Gerais (MR), CS 201 (Esplendor) (R), FT – 2 (MR), FT – 3 (MR), FT 17 (Bandeirantes) (R), FT – 201 (R), KI-S 601 (MR) e OCEPAR 7 (Brilhante) (MR). Todas essas cultivares mostram-se susceptíveis à raça ocorrida nos cerrados em 2003.

A convivência com a ferrugem asiática, sem que ocorram danos significativos a cada safra e custos desnecessários com controle químico, irá exigir a combinação de várias estratégias, entre as quais destacam-se o desenvolvimento de cultivares resistentes ou mais tolerantes, a rotação de culturas e as eliminações do cultivo de “safrinha” e das plantas guaxas.

Diversos estudos estão em andamento, buscando informações sobre o grau de tolerância das cultivares, novos germoplasmas, a eficiência relativa dos fungicidas, o número e a freqüência de aplicações, em função da época de semeadura e do clima. A dificuldade na idetificação inicial da ferrugem exige treinamento e capacitação contínua dos técnicos de campo. A detecção dos primeiros sintomas da doença, na propriedade e/ou região, é de suma importância para que a decisão para o controle químico seja tomada no momento correto.



Fonte: OUROFINO AGRONEGÓCIOS Por John Rupe – University of Arkansas, Layla Sconyers – University of Georgia

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