As perdas nas lavouras de trigo na região do Brasil Central, em função da brusone, doença causada pelo fungo Pyricularia grisea, estão preocupantes nesta safra, pois atingiu proporções epidêmicas. A estimativa das perdas está na faixa de 20% a 30% das lavouras implantadas no Cerrado dos estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. Em algumas lavouras as perdas chegam até a 100%. Até a maturação final dos grãos, os produtores devem tomar alguns cuidados, tais como, monitorar suas lavouras diariamente, utilizar no momento correto os fungicidas indicados para controle da doença e alterar o manejo de irrigação.
As recomendações são feitas pelo pesquisador Julio Cesar Albrecht, da Embrapa Cerrados (Brasília-DF), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Está havendo dificuldade de controle da doença, pois quando os sintomas aparecem visíveis em forma de espigas infectadas, o fungo já está instalado e o controle comprometido”, afirma Albrecht.
Nesta safra, as maiores perdas são verificadas nas lavouras implantadas no mês de abril. Embora este seja o início do período recomendado para o plantio, as condições climáticas atípicas deste ano provocaram a alta incidência da brusone. A ocorrência de chuvas no período de seca, temperaturas acima de 22ºC, tempo de molhamento da planta acima de 10 horas, dias nublados e alta umidade relativa no ar causaram as condições ideais para a proliferação da doença.
“As chuvas prolongaram-se muito este ano, ocorreram frequentes precipitações nos meses de abril, maio e junho, o que favoreceu o aparecimento da brusone. O produtor deve ficar atento às condições climáticas no período do plantio da lavoura. Quando ainda estiver chovendo muito neste período, o produtor deve retardar o plantio. Na atual safra, as lavouras plantadas mais tarde, no mês de maio, estão com prejuízos menores”, destacou Albrecht.
Monitoramento – O controle da doença deve ser preventivo. Em ano com condições climáticas favoráveis à proliferação da brusone, a primeira aplicação do fungicida deve ocorrer logo no início do espigamento e as seguintes a cada 12 dias. De acordo com o pesquisador, os fungicidas mais indicados para evitar o avanço da doença na lavoura são as misturas dos princípios ativos estrobirulina e triazol. Outro produto que tem apresentado bons resultados é o tebuconazole. Na aplicação dos fungicidas é muito importante que o volume de calda aplicado seja de 200 a 250 litros por hectare.
Em anos de alta incidência da doença o manejo da irrigação deve ser alterado. A recomendação é fazer as irrigações apenas durante o período da noite. O intervalo entre as irrigações deve ser maior para diminuir o tempo de molhamento da parte área das plantas.
O sintoma típico da brusone é o branqueamento parcial da espiga, comumente da metade para o ápice. Embora possa afetar outras partes da parte aérea da planta, como as folhas, é mais comum, principalmente no Cerrado, atingir as espigas. Nas folhas, as lesões são elípticas com o centro claro acinzentado e as margens de cor marrom escuro.
O pesquisador explica que o agente causal da brusone sobrevive em restos culturais e é capaz de infectar inúmeras gramíneas nativas e cultivadas. Portanto, o inóculo é abundante nos locais de ocorrência da doença. A dispersão dos esporos é feita pelo vento, com tempo seco, a longa distância, pois os esporos são leves.
Perdas econômicas – A importância dessa doença decorre das reduções no rendimento e na qualidade de grãos. Quando a infecção é precoce, os grãos, se houver, apresentam-se deformados, pequenos e com baixo peso hectolítrico, e a maioria é eliminado nos processos de colheita e de beneficiamento.
A Embrapa Cerrados possui projetos em andamento que visam identificar e desenvolver variedades de trigo resistentes à brusone. No entanto, a pesquisa é de médio a longo prazo para o lançamento de cultivares com resistência à doença. Além do Brasil, observa-se a ocorrência de brusone em alguns países da América Latina.
Liliane Castelões – jornalista (16.613 MTb/RJ)
Embrapa Cerrados
Tel.: (61) 3388-9891
liliane@cpac.embrapa.br
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