sábado, 12 de maio de 2012

Caroço de Algodão na Alimentação Bovina


O caroço de algodão é um sub-produto obtido nas máquinas algodoeiras, após a retirada da pluma, e tem grande utilidade na nutrição de ruminantes.

Sua composição bromatológica varia principalmente em função da proporção de linter, que são as fibras de celulose que restam aderidas ao caroço, depois que a pluma é extraída. O teor de umidade também é bastante variável. Quando o algodão é colhido mais maduro, geralmente o teor de umidade é menor. O ideal, portanto, é que toda partida de caroço de algodão seja analisada em laboratório, para se determinar seu real valor nutritivo.

Quando não for possível realizar tal análise, pode-se considerar que o caroço de algodão apresenta a seguinte composição bromatológica média, na base seca:


MS (%)
NDT
(%)
ELI,
(Mcal/Kg)
PB (%)
PNDR (%)
FB
(%)
FDN (%)
EE
(%)
Ca
( %)
P
(%)
92
96
2,22
23 - 25
32
21
44
17 - 23
0,16
0,75


Legenda:
MS = matéria seca
NDT = nutrientes digestíveis totais
Ell = energia líquida de lactação
PB = proteína bruta
PNDR = proteína não-degradável no rúmen
FB = fibra bruta
FDN = fibra em detergente neutro
EE = extrato etéreo
Ca = cácio
P = fósforo 

O caroço de algodão é considerado um alimento muito palatável para ruminantes, e ”completo", porque reúne características de alimento volumoso (> 18% de FB na MS), de concentrado protéico (> 20% de PB na MS) e de concentrado energético (rico em energia).

 O problema do gossipol
Apesar de suas qualidades, ocorre no caroço de algodão um fator anti-nutricional, chamado gossipol. O teor de gossipol livre (GL) varia, conforme o cultivar, de 0,5 a 1,0% na MS. Cultivares resistentes a pragas geralmente têm maior teor de gossipol. Certas variedades provenientes da África do Sul registram até 5% de gossipol. Podem ocorrer variações no teor de GL entre partidas do mesmo cultivar.

Em pequenas quantidades, o GL é inócuo. Porém, quando fornecido em grande quantidade e por tempo prolongado, ele pode provocar lesões cardíacas e hepáticas, principalmente em animais jovens. Se a intoxicação se manifestar, o tratamento é difícil. Mesmo que o animal sobreviva, provavelmente terá que ser descartado quando alcançar a idade adulta, porque ficará com sua capacidade de produção comprometida. Portanto, o caroço de algodão não deve ser fornecido para bezerros e outras categorias de animais em crescimento, até alcançarem a idade de reprodução.

Também não se deve fornecer o caroço de algodão para reprodutores machos (touros, bodes, carneiros, búfalos etc), que podem passar a apresentar problemas reprodutivos. Pesquisas realizadas nos EUA mostraram que rações contendo níveis de gossipol de 0,1% na MS, fornecidas a machos durante dois meses, provocaram azoospermia ou alteraram a morfologia espermática. Tais sintomas podem ser reduzidos ou mesmo não ocorrer quando a dieta é rica em cálcio, que pode neutralizar o gossipol.

 Portanto, o caroço de algodão é indicado principalmente para fêmeas adultas e machos em fase de terminação, para abate.

 Calculando o “preço de oportunidade” do caroço de algodão


O preço do caroço de algodão pode ser comparado com o do milho (concentrado energético) e do farelo de soja (concentrado protéico), através da seguinte equação:

 caroço de algodão, R$/t = (0,915M + 0,381F) x %MS

onde M = preço do milho em grão (R$/t) e F = preço do farelo de soja (R$/t). Por exemplo, assumindo que o milho esteja custando R$220,00/t e o farelo de soja R$312,00/t (na base natural), então o preço-de-oportunidade do caroço de algodão será de R$320,17/t de MS. Se o teor de MS do caroço for de 92%, o preço-de-oportunidade corrigido será de R$294,56/t.

Quando o preço de mercado estiver abaixo do preço-de-oportunidade, será vantajoso adquirir o caroço de algodão. Se o preço de mercado for maior, então será preferível utilizar milho e farelo de soja como fontes de energia e proteína na ração.

Como armazenar o caroço de algodão:

O caroço de boa qualidade deve ser firme e fazer um barulho característico quando chacoalhado. Ele deve se apresentar sem cheiro, limpo, livre de substâncias estranhas e com coloração variando do cinza-claro ao branco. Quando o caroço é colhido e armazenado muito úmido, pode apresentar aquecimento excessivo, tornando-se escuro, o que geralmente indica prejuízo da qualidade, pela diminuição da digestibilidade da proteína e pela rancificação (oxidação da gordura em ácidos graxos pouco palatáveis). Além disso, pode ocorrer o aparecimento de fungos e de micotoxinas, inclusive a aflatoxina. Se a presença de aflatoxina for superior a 20 ppb (partes por bilhão), o caroço não deve ser fornecido aos animais.

Na propriedade rural, o caroço deve ser armazenado sobre estrados, em local seco, bem ventilado e protegido da luz solar direta. Deve-se evitar formar pilhas muito grandes e a temperatura do caroço estocado deve permanecer baixa. O teor de umidade deve ser acompanhado freqüentemente, passando o caroço pelo secador sempre que o teor de umidade for superior a 10%. Na propriedade que não dispõe de secador ou de uma boa estrutura de armazenamento, deve-se evitar estocar o caroço por muito tempo.

Como fornecer:
a) o caroço de algodão deve ser fornecido apenas para ruminantes adultos. Sua introdução na dieta deve ser feita moderadamente, permitindo que haja a adaptação do animal ao seu uso. O ideal é fornece-lo no cocho, misturado com outros alimentos (volumoso ou concentrado). O trato diário deve ser dividido em duas vezes ou mais, se possível. O caroço também pode ser incluído em rações completas, porém sua forma física, granulada e pouco densa, dificulta seu uso em misturadores mecânicos junto com ingredientes farelados. Porisso, é preferível distribuir o caroço separadamente, no cocho, sobre o restante da ração.

b) O caroço de algodão contém muito óleo, sendo ¾ do tipo insaturado. É importante lembrar que qualquer excesso de óleo, e principalmente o óleo insaturado, é prejudicial a flora microbiana presente no rúmen, diminuindo a digestibilidade da fibra e da energia contidas na dieta. Além disso, o excesso de óleo provoca diarréia nos animais. Mesmo obedecendo-se um período de adaptação, geralmente não se deve ultrapassar o teor de 5% de gordura (extrato etéreo) na MS da dieta de ruminantes. A quantidade de caroço, portanto, deve ser calculada para não exceder esse limite de óleo. A tabela 1 estima as quantidades de caroço que podem ser fornecidas sem prejuízo da digestão microbiana. Para novilhas e vacas secas, as quantidades recomendadas na tabela poderão no geral ser reduzidas em 10%, o que já será suficiente para suprir os requisitos de proteína e energia dessas categorias menos exigentes.

Tabela 1 – Estimativa do fornecimento diário máximo de caroço de algodão (kg/cab/dia) para alcançar o limite de 5% de gordura na MS da dieta, em fêmeas bovinas manejadas exclusivamente a pasto ou suplementadas com silagem de milho.

Volumoso a base de....   pastagem      silagem de milho
novilhas 200 kg PV            1,0               0,8
novilhas 300 kg PV            1,6               1,1
vacas 400 kg PV               2.1                1,5
vacas 500 kg PV               2,6                1,9
vacas 600 kg PV               3.2                2,2
vacas 700 kg                    3,7                2,6

                   
Obs.: consumo de volumoso estimado em 80% da IMS - Ingestão

 c) o caroço de algodão estimula a ruminação. Portanto, ele deve ser fornecido inteiro, sem moer ou amassar, permitindo que o óleo seja liberado mais lentamente, a medida que vai sendo ruminado. Assim, o prejuízo à digestão ruminal ficará minimizado, em comparação com outras fontes de óleo insaturado.
 A fibra presente na dieta é fundamental para o bom funcionamento do rúmen e para a saúde do ruminante, e também é importante para a síntese da gordura do leite. Recomenda-se o mínimo de 17% de fibra na dieta para que não haja redução do teor de gordura do leite. Isso não é simples quando se trata da alimentação de vacas de alta produção leiteira, cuja dieta deve ser rica em concentrados, necessários para fornecer toda a energia requerida para a lactação.

O caroço de algodão é especialmente recomendável para essa categoria, justamente porque fornece fibra efetiva (de alta qualidade, presente no linter) e energia, além de proteína. Além disso, algum óleo do caroço escapa da digestão ruminal devido a sua encapsulação pela casca e linter. Após ser digerido no intestino, esse óleo pode ser incorporado diretamente na gordura do leite, melhorando sua composição em ácidos graxos insaturados, melhores para a saúde do consumidor. Em determinadas condições em que o caroço é fornecido acima de 15-20% da dieta, o teor de gordura do leite chega a aumentar, embora o
teor de proteína diminua.

Fonte: CATI    Autor: Zootec. Dr. Sérgio Savastano Dextru - Divisão de Extensão Rural savastano@cati.sp.gov.br

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