Com a introdução do milheto e do sorgo como plantas de cobertura no cerrado, houve um incremento significativo da expansão do sistema de plantio direto na palha (SPDP). A persistência de palhadas para este sistema é dependente das condições de umidade e temperatura elevada, que resultam em rápida decomposição da fitomassa depositada sobre o solo (CALEGARI et al., 1993)
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FIGURA 1 - Lavouras de Milheto (esquerda) em fazenda na região de Sete Lagoas-MG e Sorgo + Braquiária (direita) em fazenda na região do Vale do Jaíba-MG.
Fonte: Moreira & Araújo, 2009.
As gramíneas são classificadas como espécies de decomposição lenta por apresentarem alta relação C/N e elevados conteúdos de lignina na matéria. O milheto é um exemplo dessa alta relação, com valores muito próximos de 30, ou maior, nas fases de emborrachamento e florescimento (KlIEMANN et al., 2010). Poucos estudos foram desenvolvidos até hoje sobre a dinâmica de liberação de nutrientes no sistema palhada-solo ao longo do tempo, no entanto, sabe-se que a decomposição dos resíduos é uma variável importante na ciclagem de nutrientes no SPDP.
No caso das gramíneas, os maiores acúmulos observados são de N e K, sendo P o nutriente de menor acumulação. Braz, (2003) em estudo avaliando o acúmulo de nutrientes no limbo foliar de braquiária, milheto e mombaça em função dos dias após a emergência da planta observaram que, no caso do milheto, o máximo de acúmulo ocorreu no intervalo de 52 a 55 dias após a germinação e os valores estimados foram de 348 kg ha-1; 36 kg ha-1 e 314 kg ha-1, respectivamente para N, P e K. Esses valores de N e K são bem maiores que os normalmente incorporados pela adubação de plantio, mostrando a grande capacidade de ciclagem de nutrientes dessa cultura.
Em experimento realizado na Universidade de Rio Verde – GO, Carpim et al., (2008) avaliaram o acúmulo e a liberação de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) na biomassa de amaranto, milheto e capim-pé-de-galinha, cultivados na entressafra, em solos do Cerrado. O milheto e o capim-pé-de-galinha se destacaram na produção de biomassa, 10.801 kg ha-1 e 8.753 kg ha-1 e uma relação C/N de 34 e 29, respectivamente. O maior acúmulo de N e Mg foi verificado na palhada do capim-pé-de-galinha, e o K, na palhada de milheto. Além disso, essas duas culturas acumularam quantidades maiores de P, Ca e S que o amaranto, o que demonstra o grande potencial de acúmulo dessas espécies.
Oliveira et al., (2002) ao estimarem o rendimento de matéria seca, matéria fresca e acúmulo de nutrientes na fitomassa e seus efeitos sobre o feijoeiro em plantio direto, destacaram o milheto e o sorgo em cultivo exclusivo ou em consórcio de milheto com a mucuna-preta como os tratamentos que houve maior acúmulo de macronutrientes a serem fornecidos ao solo para o cultivo seguinte. Ao obter 14 ton ha-1 de matéria seca, o cultivo do milheto proporcionou maior proteção ao solo e maior retenção de água, diminuindo o déficit hídrico e favorecendo a formação dos grãos de feijão.
Além disso, o efeito benéfico em relação à supressão de plantas daninhas por coberturas mortas já é bastante reconhecido e explorado em praticamente todas as regiões produtoras. A supressão é atribuída a fatores físicos, químicos e biológicos.
Os efeitos físicos gerados pela palha estão relacionados principalmente à redução de disponibilidade de radiação solar e de amplitude térmica na camada superficial do solo. A supressão química está relacionada a efeitos alelopáticos, como, por exemplo, resíduos de sorgo em decomposição que liberam compostos de natureza hidrofílica, em sua maioria ácidos fenólicos (GUENZI & McCALLA, 1966; WESTON et al., 1999), prejudicando a germinação das plantas infestantes.
Em experimentos realizados na UFRGS, Trezzi & Vidal (2004) observaram que resíduos de 4 ton ha-1 de sorgo ou milheto foram suficientes para reduzir 91, 96 e 59% da população total brachiaria plantaginea, sida rhombifolia (guanxuma) e bidens pilosa (picão preto) , respectivamente.
Proteção do solo, ciclagem de nutrientes e supressão de plantas daninhas, são, portanto, alguns dos principais benefícios observados pela utilização de plantas de cobertura na entressafra. A falta de adoção dessa tecnologia pelo agricultor, na maioria das vezes, não pode ser atribuída a fatores de ordem econômica, uma vez que os benefícios são palpáveis em curto prazo de tempo, ou seja, na safra seguinte à utilização.
O uso de apenas 50 kg ha-1 de N como adubação do milheto tem demonstrado resultados bastante satisfatórios quando cultivado após a retirada da cultura comercial (soja, milho, feijão, etc...). Para semeadura feita a lanço, 25 kg ha-1 sementes (peneira 01) são suficientes e devem ser incorporadas a uma profundidade de 2-3 cm. A semeadura mais profunda causa baixo índice de germinação, desuniformidade de emergência, plantas fracas com dificuldade de estabelecimento, falhas no estande e baixa produção.
O excesso de chuva no plantio também é prejudicial, podendo causar baixo índice de germinação pelo apodrecimento de sementes e morte das plântulas por encharcamento. O principal insucesso com semeadura a lanço e quando incorporado com niveladora, está relacionado à distribuição e profundidade em que as sementes são incorporadas.
Durante a operação de semeadura o distribuidor de sementes deve obedecer a uma altura de 80 cm dos discos de distribuição em relação ao solo. Para uma distribuição perfeita recomenda-se realizar a sobreposição das passadas. No manual do implemento que será utilizado é possível obter informações específicas sobre a vazão, largura útil e velocidade do trator.

Na grande maioria das vezes a cultura comercial é fortemente beneficiada pelas plantas de cobertura, no entanto, o produtor deve entender qual a melhor forma de manejar essas plantas de acordo com o sistema de produção já implantado na fazenda, em geral, usa-se a roçada ou a dessecagem.
Não existem fórmulas secretas, as gramíneas caracterizam-se pela grande produtividade de biomassa, já as leguminosas, além de rápida decomposição da palhada, possuem característica relevante de fixação biológica do nitrogênio. Encontre a melhor forma de utilizá-las e aproveite os diversos benefícios que elas têm a oferecer!

Fonte: Rehagro Breno Henrique Araújo - Engenheiro Agrônomo, Equipe Rehagro
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