quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sistema de rotação de cultura com a soja, estudado pelo IAC, diminui e até dispensa aplicação de nitrogênio no solo



O fertilizante nitrogenado é o insumo mais utilizado no cultivo da maioria das culturas agrícolas pela maior exigência das plantas com relação ao nitrogênio (N). Pesquisas realizadas nas décadas de 70 a 90 pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, tiveram como resultado, que é possível reduzir e até mesmo dispensar a aplicação de nitrogênio nas lavouras de gramíneas como: arroz, milho, sorgo, trigo e cana-de-açúcar, além do algodão (malvacea), apenas com a utilização da rotação ou sucessão de cultura com a soja.


De acordo com o pesquisador do IAC, da Sencretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, José Antonio Esteves, as plantas da família das leguminosas como, a soja, são capazes de absorver o N por meio de nódulos formados nas raízes, que são espontaneamente desprendidos no solo. No caso da soja, a bactéria é da espécie B. japonicum.

“Sua eficácia é de tal magnitude que a adubação nitrogenada pode até mesmo ser dispensada pelo agricultor”, explica Esteves. A simbiose da soja com o Bradyrhizobium pode proporcionar a fixação de 100 a 160 kg de N por hectare de solo cultivado.   Como resultado do efeito residual do N fixado e dos restos culturais do cultivo da soja, ocorre a otimização da produtividade e a redução parcial dos custos de produção da cultura sucessora no sistema de rotação.

Segundo o pesquisador do IAC, Hipólito Assunção Antonio Mascarenhas, são muitos os resultados obtidos por meio de estudos realizados no Estado de São Paulo pelo IAC, com relação ao aproveitamento do N residual da soja. O arroz, cultivado em área após quatro anos consecutivos com plantio de soja, proporcionou maior produtividade apenas com adubação nitrogenada acima de 60 kg ha-1, comparada a não utilização do fertilizante.

“Um fator importante a ser considerado é que a utilização de elevadas doses de N em cobertura, em período chuvoso, favorece o desenvolvimento vegetativo do arroz, o que pode contribuir para o aumento da incidência de brusone, acarretando prejuízos à produtividade.

No cultivo do arroz em sucessão à soja, esse problema pode ser controlado, e esse fator, deve ser considerado no momento da decisão pela aplicação, ou não, de N em cobertura ou pela adoção do aproveitamento do N residual da soja”, explica Mascarenhas.
           
Para o milho, em estudo realizado na região da Alta Mogiana, São Paulo, verificou-se que conforme o aumento no número de anos do cultivo da soja, há tendência de aumento na produtividade de grãos de milho. Também se obteve teores de nutrientes adequados e crescentes, na ausência da aplicação do N em cobertura, independentemente do número de anos de cultivo com soja.

Dessa forma, segundo Mascarenhas, fica evidenciado que o nível de suficiência do N no solo foi decorrente dos restos culturais da soja, incluindo-se raízes e nódulos, obtendo-se produtividades médias do milho crescentes após os sucessivos anos de cultivos de soja, com acréscimos de 539 kg ha-1 para cada ano cultivado com soja anteriormente.

Em Mococa, nos tratamentos com cultivo de milho após soja, na presença ou na ausência de aplicação de N em cobertura, foram constatados acréscimos significativos da ordem de 36% e 29%, respectivamente, em comparação ao cultivo contínuo do milho. “Nos tratamentos de cultivo do milho rotacionado com soja, verificou-se acréscimo não significativo de 6% na produtividade de grãos com a aplicação da adubação nitrogenada, evidenciando-se a não necessidade desta aplicação”, afirma o pesquisador.
           
Para o sorgo, foi verificado considerável aumento na produtividade da cultivar Contigrão-111, como cultura sucessora à soja, após quatro anos de estudos quanto ao efeito residual de doses de calcário e, também, do N aplicado em cobertura, independentemente das doses de N. No tratamento sem aplicação de N em cobertura, houve considerável aumento na concentração do elemento nas folhas devido à calagem, provavelmente em função do maior desenvolvimento radicular e, sobretudo, da maior disponibilidade dos nutrientes, proporcionada pelos restos culturais da soja cultivada anteriormente.

De acordo com Mascarenhas, esses índices são indicadores adequados da economia que pode ser obtida, utilizando-se a soja no sistema de rotação de culturas, com o aproveitamento dos resíduos do cultivo da soja como fonte residual de N para o sorgo.

Na cultura de trigo, em Campinas, foi utilizada uma área destinada, no ano anterior, para a multiplicação de sementes de duas linhagens de soja, distintas quanto à capacidade de nodulação. Posteriormente, após a colheita da soja, o solo foi revolvido para serem incorporados os restos culturais, aplicando-se no sulco de semeadura do trigo, apenas adubação fosfatada.

Constatou-se que a produtividade do trigo foi 30% mais elevada na área anteriormente cultivada com a soja nodulante, devido, sobretudo, ao aumento do teor de N no solo. “Essa elevação na produtividade do trigo esta diretamente relacionada ao aumento do teor do nutriente na parte aérea das plantas, resultando também em maior teor de proteína e de N nas sementes, ressaltando-se assim o benefício da inoculação da soja no sistema de rotação”, afirma Mascarenhas.
           
De 168 experimentos desenvolvidos na cultura do trigo em condições de campo, por dois anos, nos municípios de Maracaí, Assis e Cruzália, São Paulo, obtiveram-se respostas positivas quanto à produtividade com a aplicação de doses crescentes de nitrogênio em apenas 34 deles, irrigados por aspersão e em 67, em condições de sequeiro. “Nos demais, não foram verificados efeitos para produtividade, pelo fato de terem sido instalados em áreas anteriormente cultivadas com soja, evidenciando-se, novamente, a não necessidade de se realizar adubação nitrogenada em trigo, quando cultivado sucedendo essa leguminosa”,  explica Mascarenhas.

Em Orlândia, cultivando cana-de-açúcar por dois e três anos em duas áreas distintas, com a cana em sistema de sucessão de culturas com a soja, avaliou-se o efeito dos tratamentos: pousio, pousio + N na cana (40 kg ha-1 de N em cobertura) e cultivo de soja antecedendo a cana. Segundo Mascarenhas, o rendimento médio de cana-planta na área cultivada por três anos foi, respectivamente, de 132 e 128 t ha-1 nos tratamentos pousio + N e após soja não havendo diferenças entre ambos, tendência constatada também para o rendimento de açúcar.

Na área cultivada por dois anos nesse sistema de sucessão, os resultados alcançados foram semelhantes à área cultivada por três anos, ficando demonstrada a não necessidade da aplicação de N mineral na cultura da cana após a soja.

Além disso, em cultivo por dois anos de cana sucedendo a soja, a produtividade foi mais elevada em 26 toneladas por hectare de cana e três toneladas por hectare de açúcar, em relação ao sistema desenvolvido na área por três anos. Assim, na prática, baseando-se nos custos para o cultivo de ambas as culturas, o agricultor deve optar pelo cultivo da cana-de-açúcar após dois anos, com a utilização da soja nesse sistema, afirma Mascarenhas.

Quanto ao algodão, o efeito da adubação nitrogenada, aplicada em cobertura, no cultivo contínuo em rotação com soja, em Mococa e Ribeirão Preto, as produtividades de grãos de soja e de algodão foram consideradas adequadas. De acordo com Mascarenhas, tanto em Mococa como em Ribeirão Preto, não houve diferença quanto à produtividade do algodão após soja, devido aos efeitos de tratamentos. Os restos culturais da soja foram suficientes para o suprimento da necessidade de N pelo algodão, podendo ser dispensada sua aplicação em cobertura.

Segundo Mascarenhas, a utilização do sistema de rotação utilizando a soja, além de diminuir o custo da produção agrícola, proporciona ainda ganhos ambientais. A energia despendida para a produção de 50 kg de fertilizante desse tipo é equivalente àquela proporcionada para obtenção de cerca de 80 litros de petróleo.

“Além da otimização dos rendimentos das culturas sucessoras à soja, existe uma contribuição adicional quanto à preservação ambiental, por reduzir a utilização de adubos minerais nitrogenados e a consequente possibilidade de diminuir a poluição do solo”, afirma. Cabe ressaltar que, inicialmente, os agricultores deverão utilizar esses sistemas de sucessão ou rotação em áreas menores em suas propriedades, podendo adotar tais recomendações agronômicas mediante constatação de resultados favoráveis em mais de uma safra agrícola”, explica Mascarenhas.


Fonte: Instituto Agronômico de Campinas

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