Apesar de o Brasil ter o maior rebanho bovino comercial do mundo, com cerca de 180 milhões de cabeças, e ser o maior exportador mundial de carne bovina, ainda apresenta, na média, índices produtivos inferiores quando comparados a uma pecuária desenvolvida. Em busca de um produto de melhor qualidade, o setor produtivo deve adotar tecnologias. Dentre as mais acessíveis estão à utilização de diferentes grupos genéticos e a manipulação da dieta (Oliveira, 2009).
Atualmente, a pecuária de corte passa por um processo nítido de incorporação de tecnologia. Dentre elas, a utilização do confinamento como alternativa de terminação dos bois de pasto vem, cada vez mais, tomando espaço. Além da ferramenta de manejo de pastagem na seca, o confinamento oferece outras vantagens como ganhos importantes com a redução do peso ao abate, produção de carne com maior qualidade, aumento da escala de produção, redução das margens de custo e profissionalização do setor.
Até meados de 1994, a produção de bovinos de corte realizava-se quase totalmente na dependência do modelo exclusivo a pasto. A partir da adoção do Plano Real, controle inflacionário e adequação dos preços a um patamar inferior, houve um desestímulo da produção com fins especulativos, levando assim à necessidade do aumento da produtividade como meio de manutenção e/ou melhoria da receita ora perdida.
O primeiro avanço teve foco na recria, com a utilização de suplementação protéica e correção da baixa qualidade das forragens de inverno; o segundo seria a já citada utilização do semi-confinamento ou confinamento na fase final de engorda.
Outro fator que corroborou significamente para o aumento da utilização das novas tecnologias foi o avanço da produtividade, com conseqüente aumento da produção agrícola, que pode ser confirmada no gráfico abaixo:

Figura 1 - Produção brasileira de milho e soja
Fonte: IBGE
Fonte: IBGE
Com a evolução do manejo nutricional, a produção de volumosos vem apresentando certas limitações que são percebidas pelos produtores, tais como: alto custo de produção dos volumosos comumente utilizados (silagens de milho e sorgo); necessidade de área; investimento em equipamento para adubação, plantio e colheita; dificuldade no armazenamento e o manejo do fornecimento.
Todos estes fatores associados à boa disponibilidade de insumos concentrados (em quantidade e preço) vem contribuindo para uma maior utilização de dietas com alta densidade energética, dentre elas as dietas de alto grão.
As dietas para bovinos em confinamento nos Estados Unidos costumam ter cerca de 80% de concentrado ou grãos (na matéria seca), pois o custo por megacaloria de energia é menor quando comparada ao volumoso, ou seja o preço dos alimentos não diz muita coisa por si só, devendo a digestibilidade dos mesmos ser tomada como parâmetro de comparação do custoXbenefício.
Alto Grão X Alto Concentrado
Uma diferenciação importante deve ser feita entre dietas com alto grão e dietas com alto concentrado, por se tratarem de dois planos alimentares totalmente diferentes, que geram perfis de fermentação e alterações de pH distintas no rúmen.

Figura 2 - Dieta alto concentrado (1 e 2); dieta alto grão (3)
Fonte: Anais UNESP Botucatu, Danilo Grandini
Fonte: Anais UNESP Botucatu, Danilo Grandini
Em uma definição simplória, dieta com alto concentrado seria aquela que apresenta maiores proporções de alimentos concentrados na dieta (ex: milho moído, farelo de soja, etc). Já uma dieta com alto grão, além de apresentar maior proporção de concentrados, os mesmos apresentam-se na forma de grão inteiro (notadamente milho grão inteiro), geralmente associados a “pellets” como fonte de proteína e minerais.

Figura 3 - Alto Grão X Alto Concentrado
Influência Fisiológica
A fermentação ruminal é resultado de atividades físicas e microbiológicas, que convertem os componentes da ração em produtos químicos ou microbianos. Os principais produtos finais da fermentação microbiana são os ácidos graxos voláteis (AGV), proteína microbiana e vitaminas do grupo B. Os três principais AGV produzidos são o acetato, propionato e butirato. O propionato é transportado para o fígado e convertido em glicose. Já o acetato é usado principalmente como substrato para a produção de gordura animal (Church, 1993).
Em dietas à base de forragem, a proporção de AGV seria de aproximadamente 65-70% de acetato, 15-25% de propionato e 5-10% de butirato (Van Soest, 1994). Dietas ricas em carboidratos não estruturais rapidamente fermentáveis (amido) aumenta a proporção de propionato, em detrimento a de acetato, ficando a proporção de butirato constante.
Bines e Hard (1984) verificaram que o aumento da produção de propionato resultou em maior secreção de insulina. A insulina aumenta a síntese de gordura e proteína e ao mesmo tempo inibe a degradação de gordura e proteína em nível tecidual. O aumento da síntese de gordura e proteína é devido a melhor taxa de captação de nutrientes pelos tecidos.
É por este motivo que animais em confinamentos são alimentados com dietas ricas em grãos, já que maior produção de propionato resulta em ganho de peso mais eficiente e maior marmoreio, uma vez que há menor perda de energia da ração sob forma de CO2 e CH4. Além disso, dietas à base de grãos resultam em órgãos viscerais com menor peso quando comparadas com as forragens, deixando mais energia para ganho de tecidos (Fluhart, 2009).
O uso de dietas à base de milho inteiro, sem fonte de volumosos de fibra longa ou mesmo volumoso algum, tem como vantagem justamente tirar o máximo benefício de conversão alimentar, sem emprego de processamentos mais modernos.
Estudos comprovam que o uso de grão inteiro na dieta tem uma menor taxa de passagem, ou seja, maior tempo de retenção do grão no rúmen do que dietas a base de milho processado, promovendo com isso uma maior salivação (maior efeito da fibra efetiva) e maior pH ruminal (mantido acima de 6,0), através do aumento na mastigação e conseqüente maior salivação, esperando-se com isso uma menor incidência de acidose subclínica.
O fornecimento de milho inteiro representa uma segurança adicional, pois a energia contida do grão somente é liberada à medida da extensão da ruminação, e também pela própria estrutura física da dieta, cujo tamanho de partícula, por si é responsável pelos estímulos a ruminação.
Conclusão
O melhor parâmetro técnico pela adoção desta técnica é a compreensão e avaliação da conversão alimentar. Não se deve ter em mente aumento de ganho de peso, visto não ser este o principal benefício do aumento da densidade energética.
Nos confinamentos, deve-se ter atenção especial ao período de adaptação, devido às mudanças bruscas na microflora ruminal, decorrentes da mudança dieta.
Devido à sua lenta digestão e conseqüente menor taxa de passagem, as dietas contendo grão inteiro são tidas como opções para a alimentação de bovinos confinados, sendo fontes seguras e práticas de energia para o animal.
Fonte: Reahgro Autor: Rafael Ferreira Cruz , Médico Veterinário
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