sábado, 10 de dezembro de 2011

Manejo da Vaca Seca



Os produtores têm consciência, ou pelo menos deveriam tê-la através dos artigos publicados na imprensa mais acessível, de que um maneio pobre (alimentação e alojamento), lhes custa dinheiro em termos da redução dos níveis de produção de leite e de matéria útil, aumento dos problemas de saúde como a retenção placentária e a deslocação do abomaso e, por último mas não menos importante, numa redução das performances reprodutivas. Na gestão das vacas secas, os produtores deverão ter em consideração aspectos nutricionais e de maneio, de forma a potenciarem a rentabilidade das vacas na lactação seguinte.

Alimentação e Ingestão de Matéria Seca

A nutrição constitui a maior parcela da equação quando se trata do maneio da vaca seca. 60% do peso que o feto ganha ao longo dos 9 meses de gestação é conseguido nos últimos 60 dias antes do nascimento. Dito de outra forma, um vitelo pesando 40Kg ao nascimento ganhará 24Kg durante o período em que a mãe está seca. Assim, as exigências nutricionais da vaca seca devem-se, em primeiro lugar ao feto, e as necessidades da própria vaca são secundarizadas.

O feto necessita de glicose (açúcar) para lhe fornecer energia e de aminoácidos (os tijolos da proteína) para crescer. Estas necessidades têm que ser supridas pela mãe através da barreira placentária e a vaca necessitará de obter estes nutrientes através da digestão dos alimentos fornecidos de acordo com a estratégia alimentar da vaca seca. Níveis adequados de vitaminas e minerais são importantes para a saúde da vaca, em particular as vitaminas A e E, cálcio, magnésio, zinco e selénio. Desta forma, calcular a ingestão de matéria seca (DMI – Dry Matter Intake) da vaca seca, é crucial para assegurar o adequado aporte de energia, proteína, vitaminas e minerais.

DMI Intake far-off and close-up groups.
Ao longo da última década, muita ênfase foi colocada na maximização da DMI da vaca no pré-parto, de forma a assegurar uma correcta ingestão de energia e evitar possíveis problemas com fígados gordos. A pesquisa tem demonstrado que a DMI pode reduzir-se em 30% durante os últimos 14 dias que antecedem o parto. Na maioria das explorações os grupos de pré-parto contêm animais que variam significativamente nos dias até à data de parto, o que constitui um desafio para o cálculo da ingestão de matéria seca

Quando os problemas de pós-parto surgem na exploração, o que tipicamente fazemos é investigar os protocolos em vigor para o grupos de pré-parto, que são normalmente constituídos por vacas até 3 semanas do parto. Contudo, não é incomum encontrar situações em que a origem dos problemas reside no grupo de vacas secas que se encontra no período mais afastado do parto. Um dos primeiros passos a tomar é calcular a DMI para ambos os grupos.

Nestas explorações, a ênfase está colocada em fornecer um alimento palatável e rico em energia ao grupo de pré-parto, enquanto que o grupo de vacas secas mais longe do parto recebe silagem de erva e feno e/ou palha locais. O que acontece é que este último grupo apresenta níveis diários de consumo abaixo dos níveis de DMI esperados, como nos mostra a Figura 1.

Quando são transferidos para o grupo mais próximo da data de parto, a estes mesmos animais é-lhes oferecido um alimento muto palatável numa dieta rica em energia e, de forma a recuperarem o "tempo perdido", as vacas respondem em consonância aumentando o consumo de matéria seca. Mas então, à medida que o parto se torna mais próximo, as vacas vão comendo memos e menos. A pesquisa científica e a experiência de campo dos nossos veterinários sugerem que o declínio da DMI é mais abrupta com este modelo de alimentação, e este decréscimo excessivo leva a um aumento da incidência de desordens metabólicas no pós-parto.

Para combater este problema devemos dar igual relevância a ambos os grupos, tanto ao que se encontra mais próximo, como ao que se encontra mais afastado da data de parto, de forma a obtermos uma curva de DMI mais achatada e evitarmos a excessiva depressão da ingestão de alimento próximo à altura do parto. Isto pode ser conseguido melhorando a qualidade da dieta do grupo de vacas secas mais afastado do parto ou adicionando alguma palha ou feno local ao alimento do grupo de pré-parto.

MO aporte mineral, ou a falta dele, é um outro aspecto que requer atenção quando se investigam os problemas no pós-parto. A suplementação mineral nas 3 curtas semanas do pré-parto, pode não ser suficiente para compensar a falta de minerais fornecidos durante o período de tempo mais afastado do parto. Minerais como o zinco e o selénio estão directamente envolvidos nos mecanismos de resposta imunitária que são desafiados em situações de doença, como as mamites ou as metrites. Também é importante que as vacas recebam suplementação mineral adequada, uma vez que são responsáveis pela transferência de minerais essenciais ao feto.

Maneio da Vaca Seca

Para além dos aspectos nutricionais, o maneio também representa um papel importante no programa de gestão das vacas secas na exploração. O alojamento e o conforto animal são incrivelmente vitais no período seco. Se as vacas são alojadas em cubículos, assegure-se da existência de um cubículo por animal e de que os cubículos são suficientemente espaçosos (em comprimento e largura), para permitirem que uma vaca prenha se levante e se deite confortavelmente. Também é importante manter as camas limpas e secas, de modo a proteger a saúde do úbere. Se as vacas estiverem alojadas em camas livres, recomenda-se que disponham de um mínimo de 15m2 de espaço no lote mais afastado do parto, e 30m2 nos parque de pré-parto.
 
O aparar dos cascos (trimming) e os banhos podais também não devem ser negligenciados durante o período seco. Uma vaca manca durante este período perde peso rapidamente, porque está renitente em levantar-se e ir à manjedoura, enquanto os seus pés estiverem doridos. Isto tem um impacto directo no feto que ela carrega e pode causar uma multiplicidade de problemas de saúde, antes ou depois do parto.

O maneio da vaca seca estabelece o patamar para a nova lactação. Protocolos seguros no que diz respeito às áreas de repouso, espaço de manjedoura e cuidado dos cascos, devem ser seguidos de perto. Manter um arraçoamento adequado é absolutamente vital. Assegurarmo-nos que a quantidade de alimento consumido proporciona a energia, proteína, minerais e vitaminas necessários, ajudará a estabelecer o patamar para um parto e um arranque de lactação bem sucedidos. O cuidado com as vacas secas não se deve restringir ao grupo de pré-parto, é também fulcral que se estenda ao lote de animais mais afastado da data de parto. Um programa de vacas secas bem delineado e cumprido, é absolutamente imprescindível para o sucesso e a rentabilidade da futura lactação.

Por: Dr. Rich Vanderwal, DVM & Dr. Mary Lou Swift, Abbotsford Veterinary Clinic,
Abbotsford - BC e Alta Genetics

0 comentários

Postar um comentário