sábado, 10 de dezembro de 2011

Estratégia de Suplementação da Dieta de Novilhas Leiteiras Mantidas a Pasto na Época da Seca


A suplementação na estação da seca em pastagens propicia inúmeras vantagens, como: redução dos problemas ambientais causados pela concentração de esterco em confinamento, menor incidência de doenças, redução no uso de medicamentos, menor demanda de mão de obra e redução da infraestrutura necessária.
Além disso, sob o ponto de vista de remuneração do capital investido, as vantagens citada são de grande importância para alcançar um dos objetivos básicos na produção de novilhas leiteiras que é a redução do custo, pois de 20 a 25 % dos custos da atividade leiteira recai sobre a recria objetivando a reposição (HOFFMAN, 2000).
Atualmente, uma prática que vem sendo utilizada nos sistemas de suplementação, principalmente em bovinos de corte, é a redução na frequência do fornecimento do suplemento de animais mantidos em pastagens. Constata-se que os custos requeridos com o transporte e a distribuição diária de suplementos para bovinos em pastejo são bastante expressivos (BERCHIELLI et al., 2006).
Na literatura nacional e internacional encontram-se alguns trabalhos ((Moraes et al., 2005; Faião et al., 2006; Canesin et al., 2007; Morais et al., 2008; Farmer et al., 2001; Currier et al., 2004 e Farmer et al., 2004), na maioria com bovinos de corte, animais que consumiram forragem de baixa qualidade e recebendo suplemento infrequentemente foram hábeis em manter o desempenho, a eficiência de utilização da matéria seca, do nitrogênio e dos demais nutrientes consumidos e a eficiência microbiana, quando comparados a animais suplementados individual e diariamente (BERCHIELLI et al., 2006).
Desta maneira, a frequência de suplementação é uma importante ferramenta a disposição dos produtores, uma vez que a suplementação realizada infrequentemente, observada na maioria dos trabalhos, não afeta o ganho de peso médio diário comparado com a suplementação diária, reduzindo custos relacionados com a mão de obra.
Objetivou-se avaliar o desenvolvimento corporal de novilhas leiteiras submetidas a diferentes frequências e níveis de suplementação, mantidas em pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, durante a época da seca.
A área experimental utilizada foi de 7,28 ha, formada por Brachiaria brizantha cv. Marandu e subdividida em quatro módulos de 1,82 ha cada, constituídos por sua vez de seis piquetes manejados sob o método de lotação intermitente, com sete dias de ocupação e 36 dias de descanso em cada piquete, perfazendo ciclos de pastejo de 42 dias.
A cada 21 dias, os animais foram rotacionados entre os piquetes (nos diferentes módulos), visando a eliminação de possíveis interferências sobre os resultados devido a diferenças entre os mesmos (disponibilidade de pasto, etc.).
Foram utilizadas 28 novilhas mestiças Gir x Holandês, com peso vivo médio 238,20 ± 19,80 kg e idade média 12,7 meses, distribuídas pelos quatro tratamentos com sete repetições, utilizando delineamento de blocos casualizados em arranjo fatorial 2 x 2 (duas frequências e dois níveis de suplementação) sendo o peso inicial o critério para confecção dos blocos.
O suplemento foi fornecido diariamente (7 vezes por semana ou de segunda, quarta e sexta-feira (3 vezes por semana) na proporção de 0,5% (32% de proteína bruta) e 1,0% (20% de proteína bruta) do peso corporal (PC). Os mesmos foram formulados empregando-se caroço de algodão, milho moído, uréia, sulfato de amônio e mistura mineral.
 As avaliações da gramínea foram realizadas a cada 14 dias onde coletou-se amostras de nove pontos pré-determinados por piquete por módulo (com base em 50 medidas de altura em cada piquete), três altura baixa, média e alta, com auxílio de disco ascendente, com objetivo de otimizar os cálculos da massa de forragem por equação de calibração do disco ascendente.
As amostras foram pesadas e secas em estufa com circulação de ar a 55ºC por 72 horas, para o cálculo da matéria seca e das proporções dos componentes da planta.
Ao final de cada ciclo os animais foram pesados e mensurados quanto à altura na cernelha, o perímetro torácico, o comprimento da garupa e a condição corporal, sempre pela manhã e após jejum de 16 horas, sendo o peso médio do lote usado para os cálculos de ajuste da quantidade de suplemento oferecido.
As variáveis relativas ao desenvolvimento corporal foram submetidas à análise da variância, considerando os efeitos de blocos, frequências e níveis de suplementação e ciclo de pastejo, usando o procedimento GLM do SAS (1999), considerando o nível de 5% de significância.
Os dados relativos à avaliação forrageira são apresentados na Tabela 1.
 

Não foram observadas diferenças em relação à altura de entrada, massa de forragem (verde e seca (MSV) e folha verde (MFV)), porcentagem de folha e colmo verde, folha senescente, na relação folha:colmo total (F:C total) e folha verde:colmo verde (FV:CV) entre as frequências e níveis de suplementação, cujos os valores médios encontrados na entrada dos animais nos piquetes foram 44,8 cm, 3,2 t MS/ha, 1,4 t MS/ha, 15,5%, 20,7%, 27,6%, 0,88 e 1,27, respectivamente, evidenciando manejo de pastagem semelhante entre os tratamentos.
Em relação à avaliação da pastagem em função dos ciclos de pastejo, verificou-se efeito sobre todas as variáveis estudadas, exceto na altura de entrada e na relação folha:colmo total (Tabela 1).
Este fato ocorreu provavelmente em virtude da maior precipitação pluviométrica ocorrida nos meses de setembro (139 mm) e outubro de 2009 (94 mm) resultando em maior oferta de MSV, MFV e FV:FC, promovendo a melhoria na qualidade nutricional, principalmente no terceiro ciclo de pastejo.
Desde modo, o desempenho das novilhas foi melhor no terceiro ciclo de pastejo (0,933 kg/animal/dia) em comparação com o primeiro (0,473 kg/animal/dia) e o segundo (0,327 kg/animal/dia).


Verificou-se que o peso, o perímetro torácico e a altura na cernelha iniciais e finais, além do comprimento da garupa inicial e a condição corporal final não diferiram entre as frequências e níveis de suplementação na dieta de novilhas leiteiras em pastejo (Tabela 2).
O ganho de peso médio diário não foi afetado pelas frequências de suplementação, resultado semelhante foi encontrado por CANESIN et al. (2007). No entanto, foi diferente quando os animais foram suplementados com 1,0% do PC, em que apresentaram maior GMD (0,643 kg/animal) em comparação com aqueles que receberam 0,5% do PC (0,513 kg/animal).
Vale ressaltar que os animais que receberam alto nível de suplemento (1,0% PC) obtiveram maior ganho de peso total e maior consumo de suplemento que os animais que receberam baixo nível de suplemento (0,5% PC).
O consumo total de suplemento ao longo do período experimental foi de 346,50 kg e 172,62 kg para os níveis de suplementação 1,0 e 0,5% PC, respectivamente.
Assim, os animais que receberam suplemento a base de 0,5% PC obtiveram melhor conversão alimentar (2,66) do suplemento com relação ao que receberam 1,0% PC que foi de 4,28.
Em função da fase de recria de novilhas representarem custo elevado nos sistemas de produção de leite, o uso de nível de suplementação mais baixo aliado ao adequado manejo do pasto, pode ser usado como estratégia de manejo nutricional na recria de novilhas mestiças, sem atrasos consideráveis no início da vida reprodutiva das mesmas. 
A economia de suplemento, neste caso, seria suficiente para suplementar o dobro dos animais o que seria vantagem a ser analisada.
Além disso, com base nos resultados obtidos, a redução na frequência de suplementação pode representar opção para o produtor de leite racionalizar a mão de obra na propriedade, promovendo a redução nos custos de produção sem afetar o desempenho dos animais.

Fonte: APTA  
Autor:
Ricardo Dias Signoretti
Eng. Agr., Dr., PqC do Pólo Regional Alta Mogiana/APTA

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