quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Protocolo Ovsynch – suas bases de desenvolvimento e aperfeiçoamento do momento da IA


Os avanços na genética e no manejo possibilitaram o crescente aumento do número de vacas por rebanho. Entretanto, com esse aumento foi criado um novo problema para o manejo reprodutivo das vacas leiteiras: a detecção eficiente do cio. Os métodos tradicionais de detecção de estro são ineficientes quando aplicados em grandes rebanhos leiteiros por haver uma alta relação vacas/funcionários, resultando principalmente na diminuição da precisão e eficiência de detecção de estro.

Sabe-se que a eficiência de detecção de estro (e consequentemente a taxa de serviço) é um dos mais importantes fatores que limitam o desempenho reprodutivo de vacas leiteiras. Se este parâmetro estiver aquém do desejado não é possível alcançar os almejados altos índices reprodutivos.

Uma maneira de contornar o declínio no desempenho reprodutivo de rebanhos leiteiros é a aplicação de métodos para controlar a dinâmica folicular e lútea. Aplicações de protocolos reprodutivos permitem a sincronização do desenvolvimento folicular, a regressão luteal e a sincronização do momento da ovulação, sem a necessidade da detecção do estro.

Em alguns estudos, as taxas de concepção após inseminação artificial em tempo fixo (IATF) são menores do que aquelas encontradas com a IA tradicional. Porém, as taxas de prenhez geralmente são maiores após IATF devido ao fato de 100% das vacas serem inseminadas (100% de taxa de serviço), fato que não ocorre na IA tradicional. Assim, neste artigo iremos falar sobre o protocolo Ovsynch, um dos primeiros protocolos criados e atualmente o mais utilizado nos rebanhos leiteiros dos Estados Unidos e da Europa devido à restrição na utilização de estrógenos nesses lugares.

O primeiro protocolo que realmente possibilitou o uso da IATF com satisfatória taxa de prenhez foi o Ovsynch. Ele foi desenvolvido na Universidade de Wisconsin, Estados Unidos, nos anos 90. A criação surgiu do desejo em desenvolver um método para sincronizar o momento da ovulação em bovinos utilizando GnRH e PGF2α, uma vez que, até então, somente eram utilizados esquemas de sincronização administrando PGF2α. A utilização da PGF2α por si só possibilita aumentar as taxas de estro e de IA em comparação com sistemas que utilizam apenas detecção do estro diariamente.

No entanto, o estro não é sincronizado com tanta precisão quando se utiliza apenas PGF2α, já que os animais podem entrar em estro durante um período de aproximadamente 5 dias. Além disso, esse método não dispensa a observação de cio, o que foi comprovado por um estudo no qual vacas inseminadas entre 72-80 h após a segunda injeção de PGF2α (sem observação de cio) tiveram taxa de concepção menor do que de vacas submetidas apenas à detecção de estro.

Assim, fica evidente que a utilização da PGF2α isoladamente (uma ou duas doses) não permite a realização da IATF com satisfatórios resultados.

Com o intuito de melhorar estes índices, pesquisadores passaram a utilizar a administração de GnRH 6 dias antes da injeção de PGF2α e notaram aumento do número de animais sincronizados e diminuição da variabilidade no momento de estro em vacas e novilhas.

 Esta redução na variabilidade do momento de estro deve ocorrer devido ao início de uma nova onda folicular após a administração do GnRH, resultando na formação de um novo folículo dominante, presente no momento da administração da PGF2α. Com base nestes dados, Pursley e colaboradores (1995) realizaram experimentos para testar a utilização de GnRH e PGF2α e determinar se a ovulação em vacas leiteiras poderia ser sincronizada em um período preciso de tempo.

O protocolo consistiu de uma primeira administração intramuscular de GnRH em fase aleatória do ciclo estral. Sete dias mais tarde, administrou-se PGF2α para regredir todos os corpos lúteos (CL) e então, quarenta e oito horas depois, as vacas receberam a segunda administração GnRH, a fim de provocar a ovulação do novo folículo dominante.

Postulou-se, que a primeira injeção de GnRH provocaria a ovulação de um folículo dominante e consequente início de uma nova onda folicular, ou coincidiria com uma fase do ciclo estral em que uma nova onda folicular estaria iniciando espontaneamente. Se houvesse ovulação após a administração inicial de GnRH, um CL seria formado e o intervalo de 7 dias seria suficiente para o amadurecimento desse CL e sua adequada resposta à PGF2α.

Além disso, a escolha do intervalo de 7 dias levou em consideração que a elaboração de um programa de IATF deveria ser viável e compatível com o calendário semanal de uma fazenda produtora de leite, ou seja, a facilidade de se realizar no mesmo dia da semana duas injeções do protocolo (primeiro GnRH de algumas vacas e PGF2α de outras) economizando um dia de trabalhado com os animais. Já a administração da segunda dose de GnRH seria efetuada no momento em que um pré-ovulatório ser sensível ao aumento induzido de hormônio luteinizante (LH).

Como postulado pelos pesquisadores, a primeira administração de GnRH foi capaz de ovular grandes folículos funcionais (> 10 mm) e induzir a emergência de uma nova onda de crescimento folicular, aumentando a probabilidade de um novo folículo grande estar presente no momento da administração da PGF2α. Particularmente neste estudo, uma percentagem surpreendentemente elevada de vacas em lactação (90%) ovularam após a primeira injeção de GnRH. Em contraste, apenas cerca de 50% das novilhas ovularam em resposta a esta injeção. Assim, os pesquisadores sugerem que este protocolo não parece ser tão eficaz para a sincronização de novilhas em comparação a vacas leiteiras.

A administração da segunda injeção de GnRH proporcionou a ovulação sincronizada dentro de um período de 8 h (de 26 a 32 horas após o segundo GnRH) em todas as vacas em lactação e novilhas nas quais houve regressão do CL em resposta à PGF2α. Em outros experimentos realizados pelo mesmo grupo que desenvolveu o Ovsynch, foi notado que quando os animais não recebem a segunda dose de GnRH  o período de ovulação é muito grande e disperso (36 h; sendo que as ovulações ocorreram de 84-120 h após PGF2α). Assim, fica evidente a necessidade de se utilizar um indutor de ovulação (no caso o GnRH) ao final do protocolo para melhor sincronizar o momento das ovulações.

Complementarmente, outro experimento foi desenhado para poder determinar o melhor momento para a realização da IA após a administração do segundo GnRH. Nele, vacas foram inseminadas 0, 8, 16, 24 ou 32 h após a segunda injeção de GnRH (sabendo que a ovulação ocorre entre 24 e 32 h após GnRH). Foi observado um efeito quadrático (Figura 1) do tempo de IA na taxa de concepção através da regressão logística, ou seja, verificou-se que a taxa de concepção aumentou até um limite a partir do qual começou a diminuir. Isto sugere que pode haver um momento ideal da IA e que este deve ser em torno de 16 horas após a segunda aplicação de GnRH.

Assim, parece haver um período de tempo considerável após o pico de LH (~ 24 h), no qual as vacas podem ser inseminadas com aceitável taxa de concepção, mas um momento ótimo ao redor de 16 horas após o pico de LH parece existir.


Fig. 1 – Taxa de concepção de vacas Holandesas inseminadas em momentos específicos em relação à administração da segunda dose de GnRH no protocolo Ovsynch (adaptado Pursley et al., 1998).

Após a leitura desse artigo, é importante ter em mente que, para o sucesso de programas sistemáticos de sincronização da ovulação três etapas são importantíssimas: (1) submissão de todas as vacas de primeiro serviço à inseminação artificial em tempo fixo (IATF) no final do período voluntário de espera, (2) identificação de não-vacas prenhes precocemente após à IATF e (3) rápida ressincronização e/ou reinseminação de vacas não gestantes a IATF no segundo e/ou mais serviços.

Assim, a adoção de programas de sincronização hormonal tornou-se uma ferramenta valiosa para os produtores de leite melhorarem as taxas de concepção a AI da fazenda, principalmente na etapa 1. Para obter o máximo de eficiência nas etapas 2 e 3, pode-se iniciar a ressincronização dos animais de 7 a 9 dias (dependendo do protocolo) antes do momento do diagnóstico de gestação (ou no dia do diagnóstico, apenas nas vacas vazias) e, ainda, manter um bom sistema de observação de cio, pois esta é uma ferramenta que não deve ser totalmente esquecida em uma propriedade de leite.

Apesar do impacto global do protocolo Ovsynch ser positivo, 10 a 30% das vacas tratadas com Ovsynch não têm a ovulação sincronizada em resposta ao último GnRH. Sabe-se que a resposta ovulatória ao primeiro GnRH do Ovsynch é o fator determinante para uma sincronização bem-sucedida. Esse evento é fundamental para a coordenação de um folículo dominante funcional no momento da PGF2α e do GnRH final. Assim, tratamentos que possibilitem a préssincronização dos animais é uma técnica que pode melhora ainda mais os resultados do protocolo.


Fonte: Ouro fino Agronegócios  , Henderson Ayres e Roberta Machado Ferreira, Departamento de Reprodução Animal

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