quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Maedi-visna em ovinos

 
Maedi-Visna é uma doença ocasionada por um vírus de mesmo nome, ou seja, Maedi visna vírus (MVV) e por ser silenciosa pode ocasionar sérios problemas econômicos. Esse texto começou com uma pergunta de um produtor: “Maedi-visna é um problema realmente?” E agora? Como explicar os problemas ocasionados pela Maedi-Visna, se a doença na maioria dos casos é silenciosa, no Brasil não se tem muitos casos diagnosticados, e poucos são os produtores que conhecem a doença ou pelo menos já ouviram falar.
 
No estado de Sergipe, caracterizado pela superioridade genética de ovinos da raça Santa Inês, ainda não existe pesquisa a respeito da prevalência do MVV. Em 2008, foi detectado um caso, na cidade de Lagarto, SE, em uma pesquisa envolvendo apenas animais da cidade. Mas já foi detectada em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará, Bahia e São Paulo. 
 
Tentou-se responder a essa questão fazendo alguns comentários, e explicações a respeito da doença. Primeiramente, a Maedi-Visna (MV) é similar a Artrite encefalite caprina (CAE) sendo esta a mais comum e conhecida por ocasionar a famosa artrite nos caprinos, mas também pode ocasionar encefalite, mastites e pneumonias e pode ficar escondida sem aparecimentos de nenhuma sintomatologia durante anos. Tem transmissão igual a da MV assim como mesmo diagnóstico e controle. A CAE é uma doença de alta prevalência no Brasil e tem se difundido bastante pela falta de controle da doença, embora bem conhecida dos produtores.
 
E apesar de todo o conhecimento e tentativas de se controlar a CAE, a doença continua ocasionando grandes prejuízos econômicos.  A MV que também age, silenciosamente, lentamente e ainda é pouco conhecida e estudada vai aos poucos sendo difundida entre os ovinos, independente de sexo, raça e idade e futuramente causará muitos prejuízos econômicos.
 
A principal forma de transmissão é pela ingestão de colostro e leite infectado, inclui-se, ainda, a importância da transmissão por aspiração de aerossóis de secreções respiratórias ou de células do trato respiratório. Existem vários registros de contaminação através de agulhas, tatuadores e material cirúrgico sem esterilização; linha de ordenha inadequada (animais soropositivos ordenhados antes de soronegativos), além da convivência de animais positivos e negativos em um mesmo espaço.
 
A Maedi-Visna ocasiona principalmente problemas respiratórios, como pneumonia, seguidos por mastite, encefalite e artrite, ou até mesmo nenhum sintoma. Causam sérios prejuízos econômicos, principalmente devido o declínio da produção leiteira e de carne, perda de peso dos adultos, fraqueza, dificuldade de respirar, morte e abate de animais acometidos, bem como, pela conseqüente perda de material genético de alto valor zootécnico. Os animais infectados podem apresentar os sintomas isoladamente ou conjuntamente, e levando muitos animais a óbito e transmitindo a doença para outros animais silenciosamente.
 
Para controlar e prevenir a doença faz-se necessário a realização periódica de testes nos rebanhos estabelecidos precocemente e na detecção sorológica semestral, além do isolamento ou descarte dos animais soropositivos e a separação dos filhotes ao nascimento, impedindo a ingestão do colostro e leite de fêmeas contaminadas. E não existe tratamento nem vacina contra essa doença. 
 
Porém, pouca ênfase é dada ao controle das doenças infecto-contagiosas, especialmente no que tange a maedi visna. Se por um lado à manutenção de animais infectados no rebanho representa sérios prejuízos econômicos, o sacrifício de todos os animais infectados é, muitas vezes, inviável, pois devido ao potencial de grande parte do rebanho estar acometida, representando a perda incalculável de material genético. Dessa forma, têm sido implantados programas de controle visando à obtenção de descendentes saudáveis desses animais enfermos antes de descartá-los. 
 
Existe a necessidade da ampla divulgação da ocorrência de Maedi-Visna, conscientização dos criadores e de todas as entidades direta ou indiretamente envolvidas, como associações de classe, autoridades sanitárias, órgãos financiadores, laboratórios de diagnósticos no sentido de criar rebanhos com status negativo comprovado, o que poderá beneficiar não só a criação de ovinos local, como nacional e mundial, pois se trata de doença de difícil controle. Para comércio de ovinos pelo MERCOSUL é necessário apresentar o atestado de exames negativo para Maedi-Visna e em algumas exposições também é solicitado.
 
Se todas as medidas profiláticas forem adequadamente aplicadas, e feito o controle sistemático do rebanho através de testes sorológicos bem como complementares, é possível que os rebanhos pouco a pouco consigam o status negativo, porém é imprescindível que os criadores se conscientizem da problemática que esta doença causa e que queiram participar de um programa de controle voluntário da Maedi- Visna.

 
Tânia Valeska Medeiros Dantas
Médica veterinária e pesquisadora de sanidade animal
Embrapa Tabuleiros Costeiros


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