O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. A produção brasileira na safra 2010/2011 está estimada em 664,333 milhões de toneladas, superior em 9,9% à da safra anterior. A produtividade média está prevista para 82.103kg/ha. O respectivo crescimento ocorreu em função da expansão de 681,9 mil hectares (9,2%) na área plantada, e de 518kg/ha (0,6%) na produtividade média (Companhia Nacional do Abastecimento – CONAB, 2010).
Tem sido amplamente usada na alimentação de bovinos em sistemas de produção brasileiros, especialmente como alternativa de volumoso para a época seca. Isto devido a vários fatores, tais como:
ü alto teor de sacarose,
ü alta produção de matéria seca (MS),
ü simplicidade de cultivo agronômico,
ü relativa resistência a pragas e doenças,
ü caráter semiperene,
ü fatores econômicos favoráveis,
ü máximo valor nutritivo no momento de maior escassez de alimento, a época seca do ano.

No entanto, a cana possui algumas limitações de ordem nutricional, como o baixo teor protéico, pobreza em minerais, além da baixa digestibilidade da fibra devido à incrustação dos carboidratos pela lignina, substância que impede o acesso da microbiota do rúmen aos mesmos.


A utilização de álcalis, como a cal (óxido de cálcio), se justifica pelo fato de a lignina da gramínea ser particularmente susceptível ao ataque hidrolítico desta base (Van Soest, 1994). Assim ocorre a solubilização parcial da hemicelulose, promovendo o fenômeno conhecido como intumescimento alcalino da celulose, o que libera então os carboidratos estruturais, como a celulose e hemicelulose, para a degradação bacteriana.


Apesar de estudos recentes demonstrarem que o aumento da inclusão gradativa de cal micropulverizada na cana picada (0,5 a 2%) eleva também a degradablilidade da MS e da matéria orgânica (MO), o mesmo não acontece com a degradabilidade das frações fibrosas (Magalhães 2010).
Além disso, o consumo de matéria seca (CMS) parece ser reduzido pela inclusão da cal na cana-de-açúcar. O consumo de matéria seca pode afetar o desempenho animal de forma decisiva, uma vez que determina o total de nutrientes ingeridos, e por conseqüência, a resposta animal. Na verdade, a digestibilidade e a utilização dos nutrientes podem ser apenas descrições qualitativas dos alimentos (Van Soest, 1994).
Porém, a utilização de álcalis (Cal a 1%) no tratamento da cana picada não parece ter efeito sobre a disponibilidade dos nutrientes até 72h pós mistura (Pancoti 2009), o que credencia o uso da cal como alternativa para conservar o valor nutritivo da cana até 72 h, podendo então ser utilizada nos casos em que o corte diário da planta é difícil, ou para estoque de um fim de semana por exemplo.
Embora um número cada vez maior de produtores esteja adotando o tratamento da cana-de-açúcar com a cal microprocessada, existem poucos dados na literatura a respeito da dose a ser utilizada, do tempo de reação necessário e do valor nutritivo da cana-de-açúcar submetida a esse tratamento. Portanto é necessário cautela e principalmente observação dos animais ao usar essa estratégia alimentar.
Cana-de-açúcar ensilada com adição de álcalis
A ensilagem da cana representa uma saída para minimizar as dificuldades geradas com o corte diário nas propriedades que usam essa forragem como fonte de alimento volumoso. Além disso, também é uma alternativa para aproveitar a cana restante de um ciclo, que por ventura tenha sobrado. No entanto, a literatura tem citado as possíveis perdas na qualidade quando a cana é submetida à ensilagem sem a adição prévia de aditivos.
Além dos carboidratos não estruturais, a fração fibrosa da cana representa uma fonte potencial de energia para o ruminante. Entretanto, seu uso é limitado devido à estrutura da parede celular, que limita a digestão microbiana no rúmen. Para tais alimentos, que apresentam baixa taxa de digestão da fração fibrosa, a utilização de aditivos químicos constitui-se em alternativa para aumentar o valor nutritivo. Dentre as substâncias mais utilizadas com esse objetivo, estão os hidróxidos de sódio e potássio e o óxido de cálcio, ou cal virgem micro processada, que se constitui em um agente químico não perigoso e não necessita de intensos cuidados no preparo, o que facilita e incentiva seu uso como hidrolisante alcalino.

O inconveniente é que, silagens de cana-de-açúcar, apresentam intensa atividade de leveduras que convertem açúcares a etanol, dióxido de carbono e água, causando reduções de até 70% no teor de carboidratos solúveis, aumentando nos componentes da parede celular e perdas de MS (PEDROSO et al., 2005; SANTOS, 2007). Essa perda de valor nutritivo da silagem pode resultar em baixo consumo voluntário da forragem (PEDROSO, 2003).
Diversos aditivos químicos têm sido avaliados visando a melhoria do processo de ensilagem da cana-de-açúcar. Dentre estes, a uréia, o benzoato de sódio, o hidróxido de sódio (NaOH) e a cal têm sido os mais pesquisados e aplicados. Pesquisas realizadas por Siqueira El al. (2004) com silagem de cana tratadas com agentes alcalinizantes, apontaram que estes reduziram a produção de etanol, a perda total de MS, a produção de gás e de efluentes. Outros pesquisadores, como Amaral (2007), reportaram que a adição da cal virgem no momento da ensilagem melhorou o padrão fermentativo e aumentou o pH das silagens. Já Balieiro Neto et al (2005) verificaram que tal aditivo melhorou a estabilidade aeróbica no pós-abertura dos silos.
É conhecido que a silagem mostra pior composição de nutrientes do que a cana in natura, porém a silagem se mostra uma opção viável para alguns casos. Com o objetivo de otimizar essa prática, deve-se procurar a utilização de aditivos como a cal virgem, que tem se mostrado eficiente em reduzir os teores fibra indisponíveis da cana e melhorar o perfil de ácidos orgânicos presentes no silo.
Fonte: Reahgro Autor: Rafael Cruz, graduando em medicina veterinária
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