quinta-feira, 19 de maio de 2011

Melhoramento Genético: Consangüinidade ou Endogamia

O parentesco no melhoramento genético, por definição, é a existência de laço genético entre indivíduos. Indivíduos aparentados têm maiores semelhanças entre si, em comparação ao resto da população e isso ocorre por compartilharem mais genes parecidos entre si do que o resto dos indivíduos.

Esses genes em questão foram herdados de seus pais, metade dos genes herdados do pai e a outra metade da mãe o que explica porque animais aparentados são parecidos e demonstram comportamentos semelhantes de produção. Além do grau de parentesco, animais da mesma raça também compartilham mais genes semelhantes do que animais de raças distintas.

Programas de melhoramento genético animal tem por objetivo fazer com que animais que apresentem superioridade em determinadas características de interesse comercial sejam selecionados, já que estes indivíduos carregam os genes que nos interessam para posterior reprodução. Geralmente esses animais superiores apresentam semelhanças produtivas,
podendo também apresentar alguns genes em comum.

Assim quanto maior a seleção de animais parecidos ou aparentados, maior será a fixação de alguns caracteres de interesse comercial, como exemplo caracteres raciais e caracteres produtivos. No entanto tem-se conhecimento que juntamente com estes caracteres de interesse, aumenta-se a incidência na população de características nada interessantes, como nascimentos de indivíduos com problemas de locomoção, problemas reprodutivos, natimortos, entre outros.

Então aparecem as perguntas. Posso acasalar indivíduos aparentados? E se posso, qual o grau de parentesco? O uso de acasalamentos consangüíneos pode resultar em problemas?

Uso do Parentesco. 

A principal vantagem do uso de acasalamentos consangüíneos ou de indivíduos que mesmo a duas ou três gerações não são aparentados é a fixação de características raciais e formação de linhagens.

Em contra partida como já citado anteriormente, junto com elas aparece uma maior freqüência na incidência de características indesejáveis, como o aparecimento de animais com problemas reprodutivos e diminuição de produção.

Porém isto está intimamente ligado ao tamanho efetivo de um rebanho já que em rebanhos suficientemente grandes, estes problemas são de menor proporção, quando em rebanhos pequenos, pode ser um grande problema.

No entanto, no uso da consangüinidade nem tudo é ruim. Podemos exemplificar isso destacando o uso do parentesco entre dois ou mais indivíduos para podermos estimar o valor gênico de um com base na informação do parente mais próximo.

Uma aplicação prática é a seguinte: deseja-se utilizar um touro como reprodutor no melhoramento genético para a característica produção de leite, entretanto a característica produção de leite não é observada em touros; logo precisa-se de um parente próximo que apresente a característica para podermos avaliar a produção deste touro com base na produção do parente, levando-se em consideração o grau de parentesco existente entre os dois.

Por exemplo, a mãe deste animal produz 1000 kg/leite a mais que a média do rebanho, considerando que o touro recebeu metade de seus genes da mãe, pode-se dizer que ele tem potencial genético para produzir aproximadamente 500 kg/leite a mais que a média do rebanho. Vale ressaltar que isso não é tão simples assim, no entanto passa uma idéia do quão é importante o parentesco entre os indivíduos.

Outro exemplo prático é a semelhança entre dois animais que pertencem à mesma raça. Indivíduos de mesma raça compartilham de mais genes em comum que indivíduos de raças distintas, assim em caso de acasalamento entre estes indivíduos pertencentes à mesma raça (mesma raça porém não aparentados) resultará em uma concentração maior de genes parecidos, diminuindo a diversidade genética, e aumentando a ocorrência de determinados genes de interesse nesta população.

Este aumento na concentração de alguns genes é benéfico para padronizar um rebanho, fixar características de interesse, reduzir a variabilidade (obtendo animais mais uniformes) e facilitar a observação da ocorrência de genes recessivos 
indesejáveis (genes que causam problema de baixa fertilidade, alta mortalidade, redução do vigor e do poder adaptativo dos animais, etc.).

O uso da consangüinidade também permite formar famílias distintas ou linhagens a partir do acasalamento de indivíduos mais parecidos entre si, eliminando os piores dentro de cada família. Desta forma, ocorre um maior distanciamento de famílias com características distintas, mesmo sendo esta formação realizada a partir de alguns ancestrais em comum.

Consangüinidade como ferramenta.

Muito se tem utilizado a consangüinidade como ferramenta para uniformizar o rebanho, aprimorar raças e produzir linhagens. Em suínos por exemplo, alguns trabalhos foram realizados para avaliar os efeitos da consangüinidade e assim foram desenvolvidas 146 linhagens da raça Large White, atingindo um coeficiente de consangüinidade de 40-50%, altíssimo. Das 146 linhagens, apenas 18 linhagens sobreviveram devido a razões de eliminação como: pequeno número de animais na leitegada; leitegada com baixo peso a desmama; infertilidade; morte de reprodutores; problemas de locomoção entre outras.

Já em gado de leite a consangüinidade pode exercer um efeito negativo mais intenso, reduzindo a viabilidade de bezerros, desempenho reprodutivo, crescimento, produção de leite e gordura e aumento na incidência de defeitos causados por genes recessivos, como albinismo, defeitos ou problemas metabólicos, entre outros. Para produção de leite em 305 dias de lactação, em geral existe uma redução de aproximadamente 22,7 kg de leite para cada 1% de aumento da consangüinidade.

Em bovinos de corte o acasalamento de animais geneticamente mais próximos ou aparentados gera produções mais modestas quando comparados a animais não aparentados ou mestiços. Isso se deve, por exemplo, a baixa variabilidade genética dos aparentados e a heterose nos mestiços.

Respondendo portanto, às perguntas do início deste documento, destaca-se que sim, pode-se realizar acasalamentos endogamicos, no entanto quanto maior o grau de endogamia (parentesco), maiores as chances de desenvolverem problemas relacionados a este processo. Mesmo com a probabilidade de aparecimento de problemas, o acasalamento de indivíduos mais próximos geneticamente continua sendo uma excelente estratégia para fixar características, homogeneizar rebanhos e padronizar produções.

No entanto estes acasalamentos devem ser criteriosamente monitorados e quando praticados devem ser restritos a populações reduzidas e rigorosamente selecionadas.


Fonte: Iepec /

Prof. Dr. Alexandre Leseur dos Santos
Mestre e Doutor em Zootecnia – área de concentração: 
Produção Animal com ênfase em Melhoramento Genético Animal. 
Atualmente é Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Drª. Fernanda Granzotto
Doutora em Zootecnia – área de concentração: 
Produção Animal com ênfase em Nutrição de Ruminantes. 
Atualmente é Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia. 

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